Imagens mostram ação de grupo que desviava dinheiro da saúde da PM-RJ
O RJTV mostrou com exclusividade nesta quarta-feira (3) como funcionava a negociação que desviou milhões do fundo de saúde da Polícia Militar. Os bandidos limparam o cofre e planejavam usar também o dinheiro da assembleia legislativa. Imagens de câmera escondida mostram a negociação entre dois empresários e um lobista, que citam o nome do presidente da Alerj, Jorge Picciani, do PMDB. A reportagem exclusiva é de Paulo Renato Soares e Mohamede Saigg.
A investigação contou com a Subsecretaria de Inteligência, o Ministério Público e a Corregedoria da PM. A gravação de uma reunião, realizada dentro do quartel-general da Polícia Militar, mostra, segundo o Ministério Público, uma discussão de valores de propina. Oficialmente, o encontro tratava da compra de um equipamento para a corporação.
Nas imagens aparecem oficiais que, a pedido da corregedoria da PM, fingem fazer parte do esquema. Além deles, aparecem Joel de Lima Pinel e Cainã Albuquerque Pinel, pai e filho, que fazem parte da Bioalpha Serviços & Comércio de Materiais Médicos Hospitalares Ltda.
Os diálogos mostram detalhes do processo de desvio de R$ 6 milhões, que seria doado pela Alerj para a PM comprar de um exoesqueleto, equipamento usado no tratamento de policiais que ficaram paraplégicos.
“Tem a parte do Picciani, tem a parte do Orson que eu tenho que dar uma bola. E eu tenho condições de resolver em cinco aqui”, afirmou o empresário Joel de Lima Pinel, na gravação.
“Cinco por cento?”, quesitona.
“É, o que vai dar uma faixa de R$ 6 milhões da venda, já com tudo englobado,” respondeu Joel.
Joel e Cainã estariam negociando propina em nome do presidente da Alerj e de Orson Welles da Cruz, que na época da reunião trabalhava na Secretaria de Governo do Estado do Rio e era membro suplente da Comissão de Ética do PMDB fluminense. Nas imagens, eles mostram proximidade com Picciani e usam apelidos para se referir a ele, como “italiano” e “carcamano”.
Orson era peça importante nas negociações de propina e citado em várias conversas. Ele mesmo aparece nas imagens e conta como surgiu a ideia de pegar parte do dinheiro destinado ao tratamento de policiais com problemas de saúde.
“Na Alerj, com o conhecimento que ele tem lá e até quem criou a necessidade foi a própria Alerj, que o Picciani mandou ele lá. É, a questão, só para o senhor entender, Coronel, é que o presidente Picciani tem um carinho muito grande pelo Centro de Fisiatria. Até pela família. Nasceram na região, tem ajudado já algumas vezes. Com esse assunto, o presidente Picciani falou: eu gostaria que você visitasse o centro de fisiatria. Foi aí que começou tudo. Aí fui a primeira vez, ver o que estava faltando, o que precisa. A história começou assim. Fiz o relatório na questão da piscina. E quando eu mostrei o exoesqueleto, ficou encantado. Esta foi a posição dele”, afirmou Orson Welles da Cruz em um trecho da gravação.
Orson Welles da Cruz, Joel de Lima Pinel e Cainã Albuquerque Pinel foram presos dias após a gravação da reunião, em dezembro. Ao todo, 12 oficiais, uma funcionária da PM e 12 empresários estão denunciados por participação do esquema que desviou R$ 16 milhões do Fuspom.
O fundo recebe dinheiro de contribuições dos salários dos policiais militares e do Estado do Rio e é essencial para que os PMs tenham tratamento médico.
O acordo não foi fechado, mas em outra gravação, acreditando que o acordo estava feito, Orson Welles da Cruz debochou, afirmando como iria comemorar o pagamento da propina: “Eu vou fazer esta entrega vestido de Papai Noel”, afirmou ele.
O presidente da Alerj, Jorge Picciani, declarou que Orson Welles da Cruz é um lobista que tentava vender influência. Que ele tentou, por diversas vezes e sem sucesso, tentar marcar audi~encias telefonando para seu chefe de gabinete. Jorge Picciani disse ainda que não tem relação com Orson Welles e sua quadrilha.
O Ministério Público afirmou que o procedimento foi arquivado nesta quarta (3) por absoluta falta de elementos que atestem a veracidade da acusação feita ao presidente da Alerj, Jorge Picciani. PORTAL G1