Marun disse que aliados do governo terão de entregar os cargos se apoiarem Ciro
Vera Rosa e Julia Lindner, O Estado de S.Paulo
13 Julho 2018 | 12h25
BRASÍLIA - O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse nesta sexta-feira, 13, que os partidos da coalizão que apoiarem Ciro Gomes, pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto, devem entregar os cargos na equipe do presidente Michel Temer. O Centrão, formado por PP, DEM, Solidariedade e PRB, avalia a possibilidade de se aliar a Ciro e anunciará sua posição nos próximos dias. Marun classificou a investida do pedetista sobre o bloco como “uma completa hipocrisia”.
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“Eu, sinceramente, espero que os partidos que apoiarem Ciro Gomes deixem o governo”, afirmou o ministro. “Não estou dizendo que ou apoiam o Meirelles (Henrique Meirelles, candidato do MDB) ou saem do governo. Não é isso. Mas é que Ciro ofende. Pelo menos não queremos candidatos que surjam no palanque para dizer que reforma trabalhista foi um crime e todos fiquem com cara de paisagem. Ou então vai ser a ‘Escolinha do Professor Ciro' e ele vai dizer “vocês fizeram isso errado”. “Imaginem o bloco dos ‘golpistas’ puxado por Ciro Gomes e a turma toda lá dentro?”, provocou.
O Estado mostrou nesta quinta-feira, 12, que o Palácio do Planalto ameaça tirar cargos do PP se a sigla fechar com Ciro. Terceira bancada na Câmara, com 49 deputados, o PP é o maior partido do Centrão e controla os ministérios da Saúde, Cidades e Agricultura -- com orçamentos que, juntos, somam R$ 153,5 bilhões --, além de ter o comando da Caixa.
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Marun afirmou que já conversou com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), sobre o assunto, mas negou o "enquadramento". Estendeu também a ameaça da retirada dos cargos a outros partidos, como o DEM, o PRB e o Solidariedade. O primeiro foco do ataque do ministro foi Ciro Gomes, que recentemente chamou Temer de “quadrilheiro” e “ladrão”.
Depois, porém, disse que os aliados apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT ao Planalto e preso da Lava Jato, também devem deixar o governo. O senador Renan Calheiros (MDB-AL), que concorre à reeleição, é um dos parlamentares do MDB que dão aval a Lula. “Renan jamais seria ministro desse governo”, alfinetou Marun.
Articulador político do Planalto, o ministro disse que “há uma completa hipocrisia” e "oportunismo" por parte de Ciro ao buscar aval de partidos aliados do governo, uma vez que o pré-candidato do PDT foi contra os principais projetos da administração Temer, como as reformas da Previdência, trabalhista e o teto de gastos.
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“Não cabe a aliança entre partidos contrários ao impeachment, à reforma trabalhista e ao estabelecimento do teto de gastos públicos, pelo menos no primeiro turno. Agora, no segundo turno vai se buscar quem é menor pior”, comentou Marun.
Para o ministro, os partidos que estão no governo e aceitam compor com Ciro estão “equivocados” e compactuam com a “hipocrisia” e o "oportunismo". Na prática, o Centrão, que se autodenomina ‘blocão’, ainda não decidiu quem apoiar para a Presidência. O grupo está dividido e há quem defenda aderir à campanha do pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Marun, no entanto, concentrou suas críticas em Ciro.
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“Alckmin não é meu candidato. Eu prefiro Meirelles e acho que ele tem melhor condição. Só que Alckmin, mesmo que não tenha tido posições claras (em referência às denúncias contra Temer), é outro tipo de candidato”, disse o ministro. Lembrado que há na lista de partidos aliados os que querem apoiar o pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro – como o PR, que comanda o Ministério dos Transportes --, Marun afirmou torcer para o deputado não vencer as eleições. “Mas Bolsonaro votou a favor do impeachment (da então presidente Dilma Rousseff) e pelo menos não nos chamou de golpista”, insistiu.
Marun afirmou "torcer" para que as negociações políticas "voltem à razão" e confirmou que Temer não participará da campanha nem subirá nos palanques. O governo tem 79% de reprovação, segundo recente pesquisa Ibope, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e Temer é campeão no quesito impopularidade.
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Procurado, o presidente do DEM, ACM Neto, disse que não aceitará enquadramentos do Planalto. "Nós não vamos nos submeter à pressão de ninguém. A decisão do partido será tomada com independência e observando os interesses partidários", afirmou ao EstadoACM Neto, que também é prefeito de Salvador.
O DEM comanda o Ministério da Educação e, nos bastidores, dirigentes do partido afirmam que entregarão a pasta se fecharem com o pré-candidato do PDT. Ciro Nogueira, presidente do PP, não retornou às ligações da reportagem.