Os esforços para controle de armas no país têm gerado efeitos sobre a redução de homicídios.
"Temos prova empírica de que essa é uma correlação clara", afirma Pedro Abramovay, diretor para a América Latina da Open Society Foundations, ONG de George Soros. Abramovay foi assessor do então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (1935-2014) à época da aprovação do Estatuto do Desarmamento.
Aprovada em 2003, a lei restringiu o direito ao porte de armas, embora seu artigo mais draconiano, que proibia a comercialização, tenha sido rejeitado em referendo de 2005.
Na prática, a quantidade de pessoas aptas a portar armas diminuiu, mas diversas hipóteses de porte residencial ou no local de trabalho continuaram vigentes, embora a custos mais elevados para atender exigências burocráticas.
Hoje, há divergência sobre os efeitos do estatuto.
Estudiosos concordam que a lei cumpriu o papel de reduzir homicídios, mas entendem que ela teve implementação falha em diversos estados, abrindo margem para frustrações que alimentam a retórica da "bancada da bala" -parlamentares ligados ao lobby da indústria de armas.
Um documento do grupo Brasil 200, que reúne empresários ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre), prega o fim do estatuto. Pela proposta, o cidadão sem antecedentes criminais deveria estar apto a adquirir e portar arma.
Entre pesquisadores, contudo, é quase unânime o entendimento das armas como fator "criminogênico". Em 2016, mais de 60 especialistas em violência assinaram manifesto reconhecendo que estudos suficientes evidenciaram a relação entre armas e mortes.
Um deles, do economista Daniel Cerqueira, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), concluiu que 1% a mais de armas gera quase 2% a mais de assassinatos. E mais: esse aumento na quantidade de armamentos não tem efeito para dissuadir crimes econômicos, como roubos.
Os números são compatíveis com os de um estudo publicado em 2013 por Michael Siegel, professor da Universidade de Boston (EUA), com base em dados de 1981 a 2010.
Para cada aumento de 1% na proporção de propriedade de armas domésticas, a taxa de homicídios aumentou 0,9%.