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Lixão Brasília

Lixão Brasília

  Pedro Ladeira - 13.dez.2017/Folhapress  
Crianças e adultos reviram lixo em aterro em Brasília, o maior da América Latina
Crianças e adultos reviram lixo em aterro em Brasília, o maior da América Latina

Certas realidades nacionais, quando trazidas à luz do sol, revelam-se como um prisma capaz de evidenciar um largo espectro de mazelas encontradas no Brasil. Contemple-se, por exemplo, o lixão da Estrutural, retratado quinta-feira (4) nesta Folha.

Não escapará a olhos atentos o quanto há de simbólico na localização do maior depósito irregular de detritos do país. A meros 18 km do Palácio do Planalto ergue-se uma pilha de 44 milhões de toneladas de dejetos, com 55 metros de altura e 2 km² de área.

O terreno sobre o qual se acumula a podridão carece de qualquer preparo para impermeabilização do solo. Parece inconcebível que a capital da maior nação do hemisfério Sul deposite seus detritos, impudente, sobre a terra nua.

A metáfora mais fácil associaria tal fato à sujeira que jorra da Esplanada sob as torrentes da Lava Jato. Mais grave, porém, se mostra o escândalo literal do desprezo do governo do Distrito Federal pelos regulamentos ambientais –para nada dizer da degradação social que se descortina sob a vista grossa dos três Poderes da República.

 

O Judiciário determinara já em 2011 que o depósito da Estrutural fosse interditado. Nada aconteceu. A lei federal 12.305, que instituiu em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estipulava 2014 como prazo para desativação desses lixões irregulares, mas o campeão brasiliense segue em atividade.

O descalabro ganhou novo prazo para parar de envergonhar Brasília, 20 de janeiro. O governo distrital diz que agora pode desativá-lo porque se inaugurou aterro sanitário na localidade de Samambaia que atende aos requisitos legais.

O lixão da Estrutural, porém, seguirá onde se encontra. Receberá resíduos inertes da construção civil para soterrar o equivalente a 18 andares de matéria putrefata.

Seu chorume seguirá penetrando no solo. Não parece difícil que venha a poluir matas e nascentes do Parque Nacional de Brasília, unidade de conservação com que partilha uma simples cerca.

Incerto, mesmo, só o destino da multidão de 1.200 a 2.000 pessoas –várias crianças entre elas– que extraem seu sustento, todo dia, da imundície oriunda do Plano Piloto e adjacências. Há promessa de encaminhá-las para trabalhar em usinas de reciclagem, mas não poucos duvidam disso.

Se no coração do poder sua imersão cotidiana no lixo pôde ser ignorada por tantos e por tanto tempo, não será surpresa caso continuem invisíveis –como sempre.

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