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Eis o novo dilema: com ou sem porteira fechada?

Como previsto, Michel Temer recuou da ideia de trocar antes do Natal os 17 ministros que devem pedir votos em 2018. Fará “ajustes pontuais” na Esplanada, de modo a saciar os apetites do centrão. E empurrará o grosso da reforma para o final de março, na fronteira do prazo legal para que os candidatos deixem os cargos. Definida essa regra preliminar, Temer está às voltas com um novo dilema: como entregar os ministérios aos partidos, com ou sem porteira fechada?, eis a questão.

No idioma da fisiologia, a exigência de “porteira fechada” significa que o partido contemplado deseja receber o ministério como um fazendeiro que arremata uma propriedade rural com o gado dentro. Temer esboça resistência. Num caso concreto, o presidente resiste à ideia de entregar ao PP toda a estrutura do Ministério das Cidades, de cima a baixo. Prefere esquartejar a máquina, dando um pedaço a cada legenda.

Levando-se o critério do esquartejamento às raias do paroxismo, Temer conseguiria contemplar pelo menos cinco partidos na pasta das Cidades. O PP ficaria com a poltrona de ministro e cederia a apadrinhados de legendas coirmãs as quatro secretarias do organograma: Desenvolvimento Urbano, Habitação, Mobilidade Urbana e Saneamento. Não há o menor perigo de dar certo. Mas essa é outra história. A obsessão de Temer é obter votos no Congresso, não garantir a moralidade ou a eficiências das políticas públicas.

Por ironia, deve-se ao próprio PP, campeão no ranking de enrolados no petrolão, a condução do linguajar do fisiologismo para o ambiente agropastoril. Foi em 2005, sob Lula, que a legenda passou a exigir ministérios de “porteira fechada”. Fez isso depois de eleger o então deputado Severino Cavalcante (PP-PE), de notável reputação, à presidência da Câmara. A moda pegou. Mas Lula e Dilma, sempre que podiam, fatiavam as estruturas ministeriais. O partido que mais se queixava era o PMDB de Temer.

Até aqui, Temer vinha cultuando a tradição da porteira fechada. Informada sobre a tendência do presidente de aderir à teoria do esquartejamento, a cúpula do PP parece conformada. Tende a negociar. Ganha um estábulo no organograma das Cidades quem conseguir identificar no lero-lero sobre a reforma ministerial uma ideia ou proposta capaz de melhorar a prestação de serviços à sociedade. JOSIAS DE SOUZA

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