Governo ‘faz o necessário para obter o possível’
Depois de obter da Câmara a licença para permanecer no volante até 31 de dezembro de 2018, Michel Temer tem dificuldades para traçar o itinerário do resto do seu governo. Qual é, afinal, o rumo?, perguntou o blog a um auxiliar do presidente. E ele: “Passamos a viver combates diários. Nosso horizonte é o final de cada dia. No momento, o governo faz o necessário para obter o que seus aliados consideram possível. Às vezes, o possível é menos do que o necessário. Mas é melhor do que nada.”
Temer enviara ao Congresso uma reforma da Previdência. Estimava uma economia de notáveis R$ 800 bilhões em dez anos. Há cinco meses, o Planalto não dispunha dos 308 votos necessários para prevalecer no plenário da Câmara. Mas negociava concessões que reduziriam a economia a R$ 600 bilhões. Com os poderes lipoaspirados pelas duas denúncias criminais que a Câmara enviou ao freezer, Temer tenta agora salvar um remendo que garanta pelo menos R$ 400 bilhões. Talvez não consiga nem isso.
Para obter o “possível”, Temer foi informado pelos partidos do centrão que será “necessário” promover uma reforma para expurgar ministros tucanos da Esplanada. Alega-se que a cota de ministérios do PSDB —quatro pastas— é incompatível com a taxa de infidelidade do tucanato nas votações das denúncias contra o presidente. Rendido ao pedaço mais arcaico de sua base congressual, Temer acenara com a antecipação da reforma do gabinete, inicialmente prevista para o final de março. Faria uma minirreforma em janeiro. Nada feito. O centrão exige pagamento antecipado. E Temer já considera a hipótese de ceder.
Ainda que o presidente fique de joelhos diante dos aliados, não há garantia de que o remendo previdenciário será aprovado antes do Natal. Na melhor das hipóteses, o Planalto obtém uma vitória na Câmara e adia a votação no Senado para o ano eleitoral de 2018. Na pior das hipóteses, nem isso. Simultaneamente, Temer mendiga no Legislativo a aprovação de providências fiscais indispensáveis para assegurar a meta de déficit fiscal para o ano que vem. No momento, o buraco é de R$ 159 bilhões. Se nada for feito, pode ser maior. JOSIAS DE SOUZA