Presidente da Infraero resolve atuar contra a privatização de aeroportos; tem de ser trocado
Vamos lá. Não entendo nada de aviação. Também nunca me debrucei sobre os números da Infraero. Mas acho que consigo reconhecer quando, como posso dizer?, uma equação mental não fecha. E há, claro, uma convicção minha, consolidada em razão da experiência histórica: não há serviço que o Estado possa fazer que não custe menos se entregue à iniciativa privada, que, de resto, será mais eficiente. Só aceito a exclusividade estatal para assuntos de segurança pública. E não porque funcione a contento, é bom destacar. É que não vale a pena correr o risco da multiplicação de serviços privados armados. Adiante.
O governo anunciou a venda da participação da Infraero em 14 aeroportos. A estatal administra 54. O presidente da empresa, Antônio Claret, produziu um documento, a que a Folha teve acesso, em que sustenta que, se isso acontecer, a Infraero precisará de R$ 3 bilhões por ano para custeio, já que o lote estaria entre as 17 unidades que dão lucro, suportando as demais, que são deficitárias.
Claret é ligado ao PR de Minas. No comando do Ministério dos Transportes, está seu colega de partido, Maurício Quintella, que é de Alagoas. O partido domina a área desde o governo Lula.
O presidente da estatal afirma que os resultados dos aeroportos de Curitiba, Recife, Congonhas e Santos Dumont (RJ) contribuem com 78% do lucro da estatal. Criticou ainda a venda da participação da empresa (49%) nas seguintes unidades: Galeão (RJ), Brasília (DF), Confins (MG) e Guarulhos (SP).
Segundo o Ministério dos Transportes, os dados exibidos por Claret estão errados. Sozinho, Congonhas, por exemplo, responderia por R$ 350 milhões dos R$ 400 milhões do resultado que a estatal deverá ter neste ano. A venda da participação nos aeroportos já sob concessão deve render R$ 3 bilhões, 10 vezes mais do que o resultado líquido do citado aeroporto, em São Paulo. A operação, no conjunto, contribuiria para equilibrar o caixa.
Bem, dizer o quê? O modelo de negócio defendido por Claret é um clássico do estatismo nativo. Está ancorado num aspecto: a empresa pública dá lucro. Isso se deve a um grupo pequeno de unidades. Se vendida a participação oficial nas ditas-cujas, então haverá prejuízo. Logo, que se deixe tudo como está. Ainda que fosse assim, e o ministério diz que não é, por tal critério, só se venderiam estatais que dão prejuízo.
Parece é que Claret não quer a privatização e pronto! Bem, ele exerce um cargo de confiança e tem de aplicar a política que for decidida pelo governo. Com a devida vênia, essa cantilena contra a privatização é a do atraso. Quando menos, as unidades que dão lucro, então, não podem carregar nos ombros as deficitárias, ou serão estas a determinar o destino daquelas, não o contrário.
Eu acho mesmo é Claret tem de ser substituído. REINALDO AZEVEDO