A agonia de Temer - ISTOÉ
No julho álgido de Brasília, são tantas as intempéries enfrentadas pelo governo, que auxiliares do presidente Michel Temer reconhecem ser impossível visualizar cenários para além da virada da data na folhinha do calendário. “Cada dia sua agonia”, repetem os que o cercam quase como um mantra. O cair da noite no Planalto pode até lhe parecer favorável, mas nunca se sabe como e com que aspecto o sol nascerá.
Nos últimos dias, o clima na Câmara dos Deputados se deteriorou de um jeito que até integrantes da base de apoio de Temer enredaram-se em previsões pessimistas. Hoje, o chefe do Executivo depende do voto de 171 parlamentares para conseguir evitar a abertura de um processo por corrupção passiva apresentado contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Articuladores do presidente dizem que ele ainda dispõe de uma bancada fiel de 200 deputados, mas temem que um parecer contundente do relator do caso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), possa ser capaz de virar votos considerados “pule de dez” a favor do governo. Apesar de ser do mesmo partido do presidente, Zveiter não se comporta como um aliado do Planalto. Ele, inclusive, já entoou seu “grito de independência” ao tratar do tema. A CCJ espera que o relator entregue seu parecer já na segunda-feira 10. Questionado se estaria sofrendo pressão, o parlamentar ironizou: “A única pressão com que me preocupo é a pressão alta”. Nos bastidores é líquido e certo que seu relatório será pela aceitação da denúncia contra Temer.
Para tentar reverter o quadro, o presidente resolveu entrar na arena em que sempre transitou com impressionante desembaraço: a política. Na última semana, convocou um a um dos parlamentares da base para uma conversa ao pé do ouvido.
Aos indecisos, entabulou promessas que soaram como música aos seus ouvidos. Consiste na liberação de verbas das emendas parlamentares. Em véspera de ano eleitoral, é tudo o que o político mais deseja no afã de atender aos anseios de suas bases. Mas o jogo, admitem assessores palacianos, ainda é bruto e as estratégias são alteradas ao sabor dos acontecimentos.
Apreensão.
Neste momento,Temer trabalha para se livrar de uma das três acusações encaminhadas pelo Ministério Público Federal ao Congresso Nacional. Na tarde de quarta-feira 5, o advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira entregou os argumentos de defesa.
A peça reunida em 98 páginas está em sintonia com o que o presidente e seus auxiliares vêm repetindo à exaustão: “Mostrou-se com clareza meridiana que a acusação, em face da carência de elementos probatórios, recorreu aos recursos intelectuais da suposição, da hipótese e das ilações que permitem afirmações de qualquer natureza no afã de emprestar falsa aparência de uma realidade que, na verdade, é uma mera ficção”, argumentou Mariz. O relator Sérgio Zveiter promete esgotar a análise do material durante o fim de semana.
Concluído o parecer, a CCJ vai analisar se houve ou não crime de corrupção passiva. Temer também pode ser acusado de obstrução à Justiça e organização criminosa, em novas peças a serem apresentadas em breve pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Embora ainda demonstre força na Casa, o oferecimento das denúncias, em doses homeopáticas, era o que o governo mais temia. Mas essa seria só mais uma das agruras pelas quais passaria o Palácio do Planalto na semana passada.
No sábado 1, o governo chegou a comemorar a saída de Rodrigo Rocha Loures, o “homem da mala”, da cadeia. O alívio, no entanto, foi momentâneo. Dois dias depois, foi a vez do ex-ministro Geddel Vieira Lima ser mandado para a prisão em Brasília, devolvendo ao Planalto o clima de apreensão.
Ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel foi detido sob acusação de atrapalhar as investigações que apuram irregularidades na Caixa. Ele integrava a linha de frente do governo e estaria, segundo a acusação, em plena operação para tentar silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro, presos preventivamente. Talvez não seja mais possível – no que constitui a pior e mais devastadora notícia recebida pelo governo desde a divulgação da delação de Joesley Batista. Cunha, sabe-se, já rascunhou 100 anexos de sua delação premiada e Temer é um de seus alvos. Funaro também deve envolver o presidente em sua delação, o que agravaria de vez a situação.
Do campo policial para o político, também na semana passada, o PSDB emitiu sinais de que pode deixar o governo. A legenda é um dos mais importantes pilares de Temer no Congresso. A declaração mais contundente partiu do presidente do PSDB, Tasso Jereissati. Como quem jogasse a toalha, Tasso disse que o País está chegando na “ingovernabilidade” e que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), “tem condições” de conduzir o País até às eleições de 2018. Tasso foi além: “Se o relator, que é do PMDB, der um voto para afastar o Temer, cai uma pilastra.
Aí não tem jeito. Quer coisa mais significativa do que isso?”, questionou o tucano. Percebendo uma possível convergência em torno de si, Maia se insinua ao cargo como nunca. Nos bastidores, monta ministério e já fala em manter Henrique Meirelles na Fazenda. Será a solução?
Um presidente sob pressão
• O advogado Antonio Mariz entregou quarta-feira 5 à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara, a defesa de Temer no caso da denúncia de corrupção passiva feita pelo procurador Rodrigo Janot
• Janot acusa Temer de ser o beneficiário dos R$ 500 mil recebidos pelo ex-deputado Rocha Loures junto a executivos da JBS
• A defesa de Temer, com 98 páginas, diz que houve “açodamento dos investigadores que abriram inquérito contra o presidente sem sequer haver verificação da gravação da conversa (entre Joesley e Temer)”
• Mariz também afirma que houve “açodamento” do ministro Edson Fachin, do STF, que,“sem maiores verificações, e monocraticamente, autorizou a investigação”
• A defesa reitera a “inexistência de provas de corrupção passiva”. Diz que a prova está baseada em gravação ilícita
• O relator da CCJ, deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), tem cinco sessões para apresentar o parecer sobre a denúncia• O Plenário da Câmara decidirá se Temer deve ser ou não processado. Temer precisa de 171 votos para escapar da Justiça