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Ceará transfere água para capital do Estado e provoca prejuízo no sertão

Ceará transfere água para capital do Estado e provoca prejuízo no sertão

  Honorio Barbosa - 19.fev.17/Agencia Diario  
Região do açude Castanhão, que está em nível crítico
Região do açude Castanhão, que está em nível crítico

José Ferreira Lima, 69, reza todos os dias para que chova na região de Orós, cidade a 350 km de Fortaleza encravada no sertão cearense. Criador de peixes, ele é um dos piscicultores que desde julho do ano passado tem visto um esvaziamento do açude Orós –principal fornecedor de água para consumo humano na região, mas também para criação de tilápias e fonte para a pecuária local. Desde julho, a água do Orós tem sido retirada para abastecer outro açude, o Castanhão, a 125 km dali, na cidade de Nova Jaguaribara.

A transferência de água é estratégia do governo do Ceará para evitar um colapso na região metropolitana de Fortaleza, onde vivem mais de 4 milhões de pessoas, enquanto a transposição do São Francisco não termina.

Como o Castanhão está em nível crítico, a água foi deslocada do sertão para a capital.

PREJUÍZO

Editoria de Arte/Folhapress

"Se não houver a recarga do açude, muitas famílias continuarão perdendo peixes", disse José Ferreira Lima, da Associação Comunitária de Jurema, no Orós.

Muitos moradores, diz, já desistiram da criação de peixes –só ele conta ter tido prejuízo de R$ 200 mil em 2016.

Em julho, a capacidade do reservatório de Orós estava em 32%. Agora, está em 10,2%, de acordo com a Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos) do Ceará. O volume do Castanhão está em 5,85%.

O açude Orós liberava, em julho, 4 metros cúbicos de água por segundo. Até o dia 9, saltou para 16 m³.

A previsão do governo cearense era que a retirada se encerasse até 31 de janeiro.

Mas ele acabou mantendo até este mês, alegando que, por defeito nas bombas, o total do volume acordado para liberação não havia sido usado –faltavam 171 milhões de litros. Por isso, diz, foi necessário continuar a retirada.

 

A SECA

A pouca chuva no Nordeste nos últimos cinco anos fez com que 123 dos 153 açudes do Ceará ficassem com menos de 30% da capacidade.

A média de volume dos açudes cearenses é de 8,4%. O que traz outro problema: com nível muito baixo, pode ser desaconselhável seu uso para consumo humano (já que há menos água para dispensar eventuais poluentes).

Em 1993, houve retirada idêntica do Orós, e, com 13% do nível, a população do sertão foi orientada a não beber a água ou cozinhar com ela.

"A pessoa acaba tendo todas as doenças que podem estar ligadas ao consumo de água não potável [como a esquistossomose]", afirmou João Suassuna, especialista em recursos hídricos, da Fundação Joaquim Nabuco.

Honorio Barbosa - 19.fev.17/Agencia Diario
Estado diz esperar conclusão de parte de transposição para não faltar água em Fortaleza
Estado diz esperar conclusão de parte de transposição para não faltar água em Fortaleza

OUTRO LADO

A Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará afirma que o Orós havia sido preservado estrategicamente para o período mais grave da atual crise hídrica e que a liberação se deu de forma negociada com os seis comitês da bacia.

"A interligação de bacias é um poderoso e moderno instrumento de gestão de águas", diz. A pasta afirma que no Ceará essa transferência "se dá de forma negociada há quase 25 anos". "Sem esse instrumento, a Grande Fortaleza estaria desabastecida desde 2012", diz nota.

Sobre poder faltar água na região metropolitana, o governo diz aguardar o ciclo chuvoso para análise e que espera a conclusão do Eixo Norte da transposição.

O Ministério da Integração Nacional diz que, pela troca da Mendes Júnior na primeira etapa do Eixo Norte, uma nova licitação foi feita –a empresa se disse impossibilitada de concluir os serviços.

O trecho leste da transposição, na Paraíba, foi inaugurado no início de março pelo presidente Michel Temer. A obra durou dez anos, iniciada pelo ex-presidente Lula. FOLHA DE SP

 

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