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Por que faltam medicamentos nos postos de saúde de Fortaleza

A constante falta de medicamentos nos 109 postos de saúde de Fortaleza tem justificativas que transcorrem da recessão econômica à insuficiência de matéria-prima, ao desinteresse da indústria farmacêutica, à burocratização da licitação pública, à ineficiência da logística de distribuição municipal, ao subfinanciamento do SUS... E isso só para começar.

 

Para compreender as razões da falta continuamente denunciada pelo fortalezense — principal calo da primeira gestão Roberto Cláudio (PDT) — O POVO ouviu Prefeitura, União e especialistas.

 

Antes de figurar como um dos maiores embates entre RC e o deputado estadual Capitão Wagner (PR) durante as últimas eleições, a Central de Medicamentos da Prefeitura era incógnita para a população. No período eleitoral, nenhum veículo jornalístico teve acesso ao lugar para atestar a veracidade das alegações de Wagner, que contestava a existência do espaço.

A Central de Medicamentos da Prefeitura funciona em um galpão no bairro Guajerú. Quando O POVO esteve no local, no começo do mês, havia mais de 18 milhões de unidades de medicamentos
A Central de Medicamentos da Prefeitura funciona em um galpão no bairro Guajerú. Quando O POVO esteve no local, no começo do mês, havia mais de 18 milhões de unidades de medicamentos

 

No último dia 2 , pela primeira vez, O POVO teve autorização para entrar no galpão 4 do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) — organização social contratada pela Prefeitura para comprar, armazenar e distribuir remédios. No dia da visita, havia na central, segundo o ISGH, 18.061.977 unidades de 250 itens de medicamentos, orçadas em R$ 2.232.123,82. O estoque seria suficiente para sustentar o abastecimento de Fortaleza em fevereiro e março, segundo Leonardo Costa, diretor de Gestão e Atendimento do ISGH.

Leonardo disse ainda que o Ministério da Saúde recomenda, para uma cidade com o porte da Capital, o investimento de R$ 1,4 milhão em aquisição mensal de medicamentos e a Prefeitura despende R$ 2 milhões por mês.

 

Sobre a insuficiência da assistência farmacêutica à atenção primária, Leonardo destaca que houve expansão do sistema de atendimento, com a construção de novas unidades, e o atendimento a todas as receitas emitidas pelo SUS.

 

Na defesa da Prefeitura, entra também a dificuldade em comprar grandes quantidades de medicamentos. “Eu compro um milhão de (comprimidos de) captopril por mês. Se buscar nos fornecedores locais, ninguém tem esse nível em estoque”, disse Leonardo. Assim, a estratégia passaria a ser a descentralização da compra e a busca por novos fornecedores. “A própria indústria, nesta retração econômica, escolhe linhas de produção para fabricar medicamento. Se o medicamento não é muito lucrativo, ela retrai uma linha para produzir outra”, completou o presidente do ISGH, Flávio Deulefeu.

 

O coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Odorico de Moraes, disse, porém, que o desinteresse da indústria é alheio à recessão. Para ele, quando um remédio não dá lucro, mas é necessário, o poder público deve tomar a frente da produção. “A indústria é empresa como qualquer outra. Não adianta querer que ela fabrique, ela não faz caridade”, rebateu. OPOVO

LUANA SEVERO / OPOVO

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