Novos prefeitos anunciam cortes de gastos e reclamam da crise econômica
Eleitos há pouco mais de dois meses, os novos prefeitos assumiram seus cargos neste domingo (1º) com discurso de crise e promessas de cortes. Do Sul ao Norte do país, os mandatários destacaram em seus pronunciamentos a dificuldade financeira sem precedentes e o foco no combate às "mordomias".
Os eleitos assumem em um cenário de contenção de gastos. Como mostrou reportagem da Folha no último sábado (31), as receitas encolheram com a crise, e muitos municípios reduziram obras, investimentos e suspenderam até reajustes salariais nos últimos dois anos.
Os novos mandatários sinalizam continuar com o ciclo de aperto fiscal: ainda antes da posse, diminuíram secretarias e anunciaram cortes de cargos comissionados. Um dos discursos pela redução de gastos foi o do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), para quem as "mordomias" são um "símbolo execrável" de abuso de poder. "O tempo é de crise. A ordem é não gastar", disse.
Ele estabeleceu meta de reduzir 50% do gasto com cargos comissionados e de 25% em contratos. "Estamos enfrentando uma crise de proporções jamais vistas, mas essa é também uma oportunidade de mudar a vida das pessoas para melhor", disse o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Junior (PSDB).
Segundo ele, o Brasil teve de aprender a lidar com a incompetência na gestão dos recursos, o que teria levado a economia a "ficar de joelhos" e a voltar a ter índices de desemprego há muito tempo não vistos. Em Curitiba, o prefeito Rafael Greca (PMN) prometeu cortar 40% dos cargos comissionados e funções gratificadas da prefeitura e disse que fará da saúde sua prioridade.
"A prefeitura está abusivamente inchada e partidária, servindo ao interesse do poder, não do povo", afirmou. Greca disse ainda não ter conhecimento da situação financeira da prefeitura, devido a uma "transição sôfrega", mas prometeu um balanço até o dia 10.
Para contornar a crise econômica e a queda de receitas, disse que irá promover um mutirão nas execuções fiscais do município, que afirmou estarem paradas. "Eu fiquei 20 anos longe. Agora, 'Shazan'. Me aguardem".
Gabriel Galli/Folhapress | ||
O prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan Junior (PSDB) discursa na Câmara de Porto Alegre |
Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil (PHS) pediu "juízo" aos vereadores, e afirmou que o dinheiro da prefeitura não será canalizado para "troca de favores". Um dia antes, Kalil reajustou os salários dele, do vice, de secretários e membros do primeiro escalão. O próprio salário do prefeito, ex-cartola do Atlético Mineiro, será 25,86% maior, de R$ 31,1 mil.
Também houve reajuste salarial para os vereadores da capital mineira, de 9,82%. Kalil pediu, durante o discurso de transmissão de posse, ajuda ao governador Fernando Pimentel (PT), presente no ato. "Sabemos da crise do governo estadual, mas sabemos da importância de Belo Horizonte".
PARENTES
Nos discursos, os novos prefeitos também citaram familiares políticos. Marchezan Jr., de Porto Alegre, lembrou do pai, o ex-deputado Nelson Marchezan. Ele também relatou que aprendeu a fazer política em casa, sem aceitar as opiniões apenas dos "que gritam mais alto".
Em Salvador, o prefeito reeleito ACM Neto (DEM) citou o avô e padrinho político Antônio Carlos Magalhães, ex-governador e senador pela Bahia, morto em 2007. Ele chorou ao lembrar do pai, da avó e familiares.
Cotado para a disputa do governo da Bahia em 2018, quando estará no segundo ano do atual mandato, contra o atual governador e rival político Rui Costa (PT), ACM Neto não tocou no assunto durante a posse. Mas alfinetou o petista: "Enquanto vários lugares do Brasil pioraram, com a crise econômica do país, Salvador melhorou. E sei que isso incomoda muita gente que torce contra", disse, arrancando aplausos.
Colaboraram ANDRÉ UZÊDA, de Salvador, GABRIEL GALLI, de Porto Alegre, e DANIEL CAMARGOS, de Belo Horizonte
Editoria de Arte/Folhapress | ||