A estreia de Marcela Temer - ISTOÉ
Diante de uma plateia de 200 convidados, a primeira-dama lança o programa Criança Feliz e mantém a tradição que acompanha as mulheres dos presidentes da República de se dedicar a causas sociais
Com um vestido rendado em tons de branco e azul, Marcela Temer falou, com voz segura, por três minutos. A ex-miss Paulínia ressaltou sua experiência como mãe de Michelzinho, o caçula de sete anos do presidente da República. “O que nós mães percebemos instintivamente tem sido comprovado pela ciência. Nós, pais, cuidadores, influenciamos de forma decisiva a criança nos seus primeiros anos de vida”, leu Marcela, no discurso escrito de próprio punho, na última quarta-feira 5, no Palácio do Planalto.
Com gestos delicados e bem ensaiados, Marcela olhava nos olhos de cada um dos presentes. Com a máxima “é isso que o Brasil espera de nós: compromisso no presente, para que o futuro de todos seja melhor”, ela encerrou sua fala e recebeu de Temer um beijo no rosto. Todo o evento foi pensado com o intuito de suavizar a imagem de um governo excessivamente masculino e alcançar camadas mais populares, resistentes a Temer em meio aos anúncios de reforma previdenciária e trabalhista. Avaliada como um sucesso por interlocutores palacianos, tudo indica que a atuação da jovem de 33 anos deverá ser mais explorada nos próximos meses. Prestigiaram o ato os ministros Alexandre de Moraes (Justiça), Eliseu Padilha (Casa Civil), Mendonça Filho (Educação) e Osmar Terra (Desenvolvimento Social), este o verdadeiro idealizador do programa. Terra será o principal interlocutor da primeira-dama ao longo da execução do programa. Com orçamento estimado em R$ 300 milhões para 2017, a iniciativa deve alcançar 700 mil crianças nesta primeira fase.
Nas palavras do próprio Michel Temer, Marcela atuará como uma “embaixadora” da iniciativa, de forma voluntária. Desde que foi anunciada, a decisão causou polêmica entre profissionais do Serviço Social. Eles enxergam na indicação de uma coordenadora sem formação na área, a desvalorização da carreira. Ao rebater as críticas, Terra disse que Marcela “será muito mais ouvida por gestores, empresários e pela sociedade civil” do que ele próprio. “Ela tem de falar como mulher e mãe. É um absurdo dizer que ela tem que ser do Serviço Social para exercer essa função, ela tem sensibilidade o suficiente”, afirmou o ministro.
NOS PASSOS DE DONA RUTH
Tampouco Ruth Cardoso, falecida esposa de Fernando Henrique Cardoso, tinha formação específica como assistente social. Ruth era pós-doutora em Antropologia e idealizou diversas políticas sociais no governo do marido. Muitas delas serviram de embrião para programas aprofundados por Lula. Respeitada no meio acadêmico, Dona Ruth logrou êxito. Marcela mira-se no exemplo.