Novas pesquisas do Datafolha e Ipec apontam entraves para melhora da imagem de Lula
Por Nicolas Iory — São Paulo / O GLOBO
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue com dificuldade para reagir e melhorar seus índices de popularidade junto aos brasileiros a pouco mais de um ano para as próximas eleições. O cenário foi reforçado por novos resultados de pesquisas de opinião divulgados ontem. Enquanto o mais recente levantamento Ipsos-Ipec mostrou que a reprovação à gestão Lula atingiu o maior patamar já registrado pelo instituto desde o início do atual mandato, o Datafolha apontou para uma reversão de parte da recuperação de imagem que havia sido sinalizada na pesquisa anterior.
O descontentamento captado nos levantamentos surge na esteira da crise provocada pelos desvios em benefícios pagos pelo INSS revelados em operação da Polícia Federal. Na pesquisa Ipsos-Ipec, feita entre quinta-feira da semana passada e segunda-feira e com margem de erro de dois pontos percentuais, a gestão do petista é considerada “ruim” ou “péssima” por 43% da população, contra 25% que a avaliam como “boa” ou “ótima”.
Em março, eram 41% os que se diziam insatisfeitos e 27% os que aprovavam o desempenho da gestão Lula. Já a parcela que vê o governo como regular recuou no período de 30% para 29%.
Pela segunda vez consecutiva, a maioria da população declarou desaprovar a forma como o presidente administra o país. São 55% os que fazem essa avaliação, enquanto 39% dizem aprovar os métodos de Lula. Além disso, para metade dos brasileiros (50%), o governo Lula até aqui está “pior do que se esperava”, enquanto 28% acham que o petista atendeu às expectativas e só 20% acham que ele as superou.
A pesquisa Datafolha, feita entre terça e quarta-feira e com margem de erro de dois pontos, também sinaliza para uma nova variação negativa para o governo. A taxa dos que classificam a gestão federal como “ruim” ou “péssima” oscilou de 38%, em abril, para 40%, enquanto o percentual dos que a consideram “boa” ou “ótima” variou na direção oposta, de 29% para 28%. Outros 31% classificam o governo Lula como “regular”.
Após o governo Lula ter atingido um pico de reprovação em fevereiro (41%), o levantamento seguinte do instituto indicou que a distância entre os que reprovam e os que aprovam a gestão havia diminuído de 17 pontos percentuais para 9 pontos. Agora, o intervalo entre os dois grupos é de 12 pontos.
Quando perguntados sobre o trabalho do presidente, ainda segundo o Datafolha, 46% disseram aprovar o desempenho de Lula, contra 50% que se dizem insatisfeitos. Em abril, as taxas eram de 38% e 49%, respectivamente.
Crise de confiança
A pesquisa Ipsos-Ipec mediu ainda a confiança que a população tem em Lula. Hoje, só 37% dizem confiar no mandatário, o nível mais baixo desde o início da atual gestão. São 58% os que dizem não confiar no presidente. Entre os entrevistados que moram em periferias, a taxa de confiança em Lula recuou de 38% para 31% desde março. Mesmo entre os que dizem ter votado no petista no segundo turno de 2022, não há unanimidade: cerca de um quarto desse grupo (23%) diz que não confia em Lula.
Ainda segundo a pesquisa, as taxas mais elevadas de avaliação negativa do governo são registradas nos grupos dos mais ricos, que têm renda mensal familiar superior a cinco salário mínimos (59%); entre os mais instruídos (51%); e entre os evangélicos (50%). Já os melhores desempenhos foram verificados entre moradores da região Nordeste (38% de ótimo/bom); entre os menos escolarizados (36%); entre quem tem renda familiar de até um salário mínimo (33%); e entre católicos (32%). No Sudeste, região mais populosa e que representa 43% da amostra, o governo tem aval de 23%, mas é mal avaliado por 47%.
O Datafolha também indica que o desgaste na imagem do governo é maior nas classes média e alta, e na população com ensino superior. No último grupo, a aprovação recuou de 31% em abril para 25%. Já entre os que ganham de dois a cinco salários mínimos mensais, a taxa de “ótimo” ou “bom” passou de 26% para 22%.
Segundo o Datafolha, houve sinais de melhora, porém, entre os mais pobres, que ganham até dois salários mínimos por mês: a taxa dos que reprovam a administração de Lula passou de 36% para 33%, enquanto os que a aprovam variaram de 30% para 32% em dois meses. Os moradores do Nordeste também amorteceram a queda da avaliação do governo: na região, são 37% os que veem o governo como ótimo ou bom, taxa que é de 22% no Sul, e de 25% nas demais.
Visão sobre o país
Outra sinalização negativa para o governo veio da pesquisa bianual Ipsos Populism Report, realizada entre fevereiro e março em 31 países e divulgada pelo instituto. Os dados mostram que os brasileiros passaram a considerar a sociedade mais deteriorada e a ver o país em declínio. Os números revertem a melhora observada no início da gestão petista, na comparação com o governo Bolsonaro.
O índice daqueles que identificam deterioração subiu sete pontos em relação a 2023 e atingiu 69%, o que coloca o país em quarto no ranking global. O aumento só foi inferior ao da Alemanha, Coreia do Sul e Indonésia. No caso da percepção de declínio, o salto foi de nove pontos, e os 62% registrados colocam o país acima da média mundial, de 57%. Foram ouvidos para a pesquisa 1 mil brasileiros. A margem de erro é de 3,5 pontos (Colaborou Caio Sartori)