Bolsa Família para quem de fato precisa
São inegáveis os avanços sociais gerados pelo Bolsa Família. Contudo ainda há muito a ser feito para alcançar de fato os estratos mais vulneráveis.
Levantamento da Folha com base em dados do Bolsa Família de janeiro de 2025 revelou que, em 1.211 municípios, o número de beneficiários do programa é maior do que a estimativa de famílias em situação de pobreza (renda mensal de até R$ 218 por pessoa) para cada localidade.
Esses municípios, que representam 21,7% do total no país, são aqueles em que o montante dos que recebem o auxílio superou em mais de 10% as estimativas feitas pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) —as mais recentes são de 2022.
Como se trata de projeções passíveis de variação, as 1.769 cidades em que a quantidade de beneficiários ficou até 10% acima podem estar dentro das margens de tolerância, que não foram divulgadas pelo órgão.
Segundo as estimativas do MDS, chamadas de "metas", 20,6 milhões de famílias estavam em situação de pobreza em 2022, número bastante próximo aos 20,5 milhões de beneficiários do Bolsa Família. No entanto a implementação dos repasses apresenta deturpações quando se observa a realidade de cada localidade.
Em 1.135 municípios, a quantidade de famílias que recebem o auxílio foi mais de 10% abaixo das metas de pobreza do MDS.
Tais variações mostram que o governo federal precisa refinar o cadastro para fazer com que o dinheiro alcance os mais necessitados e detectar aqueles que não têm direito de recebê-lo.
A principal distorção é a alta significativa de famílias unipessoais (só um integrante), incitada por mudanças criadas no final do mandato de Jair Bolsonaro (PL).
Ao voltar a considerar como critério o número de filhos por família, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reduziu, entre janeiro de 2023 e junho de 2024, o total das unipessoais de 5,9 milhões a 3,9 milhões. Mas em dezembro ele subiu para 4,1 milhões.
As taxas de pobreza e extrema pobreza em 2023 —27,4% e 5,9%, respectivamente— caíram aos menores níveis da série histórica do IBGE, iniciada em 2012, o que mostra eficácia do Bolsa Família.
Mas, de 2022 a 2023, a despesa com o programa cresceu 80,4% acima da inflação, com expansão de R$ 78,3 bilhões no primeiro ano do atual governo Lula; em 2024, foram gastos R$ 168,3 bilhões. O poder público tem o dever de gerir melhor esse dinheiro, pelo bem dos mais pobres e pela sustentabilidade do Orçamento, que já é bastante deficitário.