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Caso das 'quentinhas invisíveis' e anúncio desmentido sobre Bolsa Família ameaçam Wellington Dias na reforma ministerial

Por  — Brasília / o globo

 

 

Em mais uma crise do governo, a Casa Civil divulgou nota na noite de sexta-feira para desmentir uma declaração dada pelo ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, de que há uma discussão interna para aumentar o valor do Bolsa Família. À frente de uma pasta considerada estratégica, com orçamento de R$ 291 bilhões, Dias é alvo de críticas no Palácio do Planalto desde o primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após mais um ruído na comunicação, área considerada estratégica para 2026, o petista entrou na mira para ser incluído na iminente reforma ministerial.

 

A fala de sexta-feira de Dias irritou Lula e mobilizou integrantes do governo. O episódio se soma ao desgaste provocado pela revelação feita pelo GLOBO nesta semana da existência de ONGs contratadas pela pasta comandadas por assessores e ex-assessores de petistas para fornecer quentinhas que não foram entregues como previsto.

 

Pasta cobiçada

Auxiliares de Lula no Planalto passaram a defender que o titular do Desenvolvimento Social retorne ao Senado. A pasta é alvo de cobiça de partidos de centro da base que ainda é frágil no Congresso. Entre os citados para ocupar o posto, está o líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA).

 

No entanto, justamente por causa do Bolsa Família, a área é considerada fundamental pelo PT, que resiste a entregá-lo a um quadro que não seja ligado ao partido. Em setores do governo, o entendimento é que Dias poderia ter dado mais visibilidade às ações da pasta e explorado melhor o seu potencial político.

 

Na reforma ministerial realizada em setembro de 2023, a sua saída também foi cogitada. Na época, o ministro se aproximou da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, com quem esteve nesta semana. Dias convidou Janja para uma viagem a Roma a partir de domingo para participar da 48ª Sessão do Conselho de Governança do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).

 

A declaração de Welligton Dias sobre o estudo para aumento do Bolsa Família pegou o Ministério da Fazenda, de Fernando Haddad, totalmente de surpresa. O eventual aumento do Bolsa Família teria impacto nas contas públicas em um momento em que o governo é pressionado a cortar gastos. A Fazenda também divulgou a nota da Casa Civil que desmentia o ministro do Desenvolvimento Social.

 

Na nota de desmentido, o Ministério da Casa Civil, comandado por Rui Costa, garante que a possibilidade de aumento não será discutida pelo governo. “A Casa Civil da Presidência da República informa que não existe estudo no governo sobre aumento do valor do benefício do Bolsa Família. Esse tema não está na pauta do governo e não será discutido.

 

Em entrevista ao portal “DW”, Dias havia falado sobre a necessidade de ajustar o benefício. — Vamos tomar uma decisão (sobre reajuste do Bolsa Família) dialogando com o presidente, porque isso repercute. Será um ajuste? Será um complemento na alimentação? — perguntou. Em seguida, o ministro admite que mexer no valor do benefício “está na mesa”.

 

Duas horas depois do desmentido da Casa Civil, Wellington Dias divulgou uma nota em que “esclarece que não há nenhum estudo em andamento sobre o aumento do valor do benefício do Bolsa Família e nem agenda marcada para tratar do tema”.

 

“O trabalho do MDS continua focado em garantir a proteção social aos brasileiros e brasileiras em situação de vulnerabilidade, com o objetivo de superar a pobreza. Todas as ações deste ministério são tomadas em conformidade com as diretrizes do governo federal, especialmente no que diz respeito à responsabilidade fiscal”, afirma.

 

Wellington Dias tratou na entrevista sobre a necessidade incremento para responder à alta do preço dos alimentos. O problema já havia provocado uma crise no governo na quinta-feira, quando Lula, em entrevista a rádios da Bahia, disse que o povo não deveria comprar os produtos que estão caros. — Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver a consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, porque senão vai estragar — afirmou Lula na entrevista.

 

Integrantes do governo reconhecem que a fala do presidente foi equivocada, deu margem a ataques da oposição e precisa ser calibrada, principalmente diante da persistência do tema no debate público.

 

Do jeito que Lula se expressou, a avaliação é que ele passou a impressão que o governo lavou as mãos e transferiu a responsabilidade para o povo. Mesmo com a chegada de Sidônio Palmeira para assumir a comunicação do governo, a percepção é que o Palácio do Planalto ainda tem muito a fazer para chegar competitivo em 2026, quando Lula poderá disputar a reeleição. Além da dificuldade para manter partidos de centro numa frente ampla, não é considerada fácil a tarefa de disputar terreno com a oposição nas redes sociais.

 

ONG de petistas

Nesta semana, O GLOBO mostrou que o Ministério do Desenvolvimento Social firmou um contrato de R$ 5,6 milhões com uma ONG comandada por um ex-assessor do PT, que vem repassando verbas para entidades lideradas por atuais e ex-auxiliares de parlamentares petistas. O acordo, inserido no programa Cozinha Solidária, previa a distribuição de refeições para pessoas em vulnerabilidade social. No entanto, visitas realizadas pelo GLOBO em endereços informados ao governo federal não encontraram sinais da produção e entrega dos alimentos.

 

Na sexta-feira, o Jornal Nacional, da TV Globo, também visitou um dos locais, e encontrou fogão e as panelas recém-comprados. O contrato foi assinado em novembro de 2024 e a gestão do ministério afirmou que tomará medidas cabíveis caso sejam constatadas irregularidades A principal ONG beneficiada, o Movimento Organizacional Vencer, Educar e Realizar (Mover Helipa), subcontratou diversas entidades, que não entregaram o previsto em convênios com o governo federal.

 

Diante do caso, o ministério de Wellington Dias acionou a Polícia Federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) e outros órgãos de controle para investigar a aplicação dos recursos públicos no projeto.

 

Desgastes no cargo

  • Desempenho mal-avaliado: No comando de área considerada estratégica para 2026, Wellington Dias é alvo de críticas no Planalto desde o primeiro ano do terceiro mandato de Lula. Em setores do governo, a avaliação é que Dias poderia ter dado mais visibilidade às ações do ministério, que tem como carro-chefe o Bolsa Família.
  • Na mira do Centrão: O Ministério do Desenvolvimento Social é alvo de cobiça do Centrão. Entre os citados para ocupar o posto está o líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA). No entanto, justamente por causa do Bolsa Família, a área é considerada fundamental pelo PT, que resiste a abrir mão do cargo.
  • Contrato sob suspeita: Organizações Não Governamentais (ONGs) comandadas por assessores e ex-assessores de petistas foram contratadas por R$ 5,6 milhões pelo ministério para fornecer quentinhas que não foram entregues como previsto. As refeições eram para pessoas em vulnerabilidade social.

 

O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias

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