Polícia falhou ao não se preparar para confusão com torcedores no Rio
Por Editorial / O GLOBO
São lamentáveis as cenas de selvageria protagonizadas por torcedores do Peñarol no Rio na manhã de quarta-feira, antes da partida contra o Botafogo pela Copa Libertadores (à noite, o time brasileiro goleou o uruguaio por 5 a 0). Armados com paus e barras de ferro, eles enfrentaram policiais, saquearam e depredaram quiosques, incendiaram veículos e espalharam pânico pela tranquila Praia do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes.
A polícia usou bombas de efeito moral para controlar os baderneiros. Segundo policiais militares, o tumulto começou após a prisão de um torcedor uruguaio acusado de furtar um celular. Outras versões falam numa briga com flamenguistas na praia e em discussões em meio a acusações de racismo.
Certo mesmo é que houve falha grave no planejamento do policiamento antes da partida, apesar dos alertas. Sabia-se onde a torcida uruguaia ficaria concentrada. O próprio prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), disse ter alertado a PM sobre o risco de tumulto. A prefeitura relatou ter sido contra a escolha do Recreio para abrigar os torcedores do Peñarol. “Tentamos mudar de qualquer jeito, oferecemos a área do Parque dos Atletas. Eles mantiveram ali, com a garantia de que haveria polícia, Choque, Bope, e nada disso teve”, disse Paes ao GLOBO.
As falhas foram tão evidentes que o próprio secretário de Segurança do Rio, Victor Cesar Santos, admitiu o erro. “Subestimamos aquele efetivo policial que estava ali, achando que ele poderia agir e conter esses três ônibus parados na orla”, disse. “Lições aprendidas, para que isso não aconteça novamente.” Louve-se a sinceridade do secretário em admitir o erro, mas as lições já deveriam ter sido aprendidas há muito tempo.
Confrontos entre torcidas adversárias são previsíveis. Em setembro, antes da disputa entre Peñarol e Flamengo, houve briga na Praia da Macumba. Há cerca de um ano, torcedores do Boca Juniors e do Fluminense se enfrentaram na Praia de Copacabana, dias antes da final da Libertadores no Maracanã. A polícia precisou intervir com balas de borracha e spray de pimenta. Também em jogos do Campeonato Brasileiro, os tumultos entre torcedores adversários infelizmente são corriqueiros. Não deveriam, portanto, surpreender a polícia.
Depois da chegada de reforços, os policiais conseguiram controlar a confusão. Mais de 280 torcedores foram levados para a Cidade da Polícia. Vinte e dois ficaram detidos — e impedidos de assistir ao jogo. Era o que tinha de ser feito. Os baderneiros precisam responder por seus atos e pelos prejuízos.
Mas o problema não se encerra aí. Falhas de planejamento em grandes eventos esportivos são inaceitáveis, especialmente num país onde o futebol é uma paixão. Nos últimos anos, clubes brasileiros têm sido protagonistas da Libertadores, portanto confrontos semelhantes podem acontecer no Rio ou em outras cidades. Enquanto os próprios clubes não forem punidos, essa será sempre uma situação esperada.