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Lula enfrentará na ONU os paradoxos de sua diplomacia

Por Editorial / O GLOBO

 

Ao abrir a Assembleia Geral da ONU no ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva causou boa impressão pelo contraste com o antecessor. Parecia, enfim, que o Brasil estava de volta à cena internacional depois de relegado à posição de pária pelo bolsonarismo. Com quase dois anos de mandato, o encanto se quebrou. Nesta terça-feira, ao repetir a tradição do discurso de abertura, Lula terá de enfrentar os paradoxos e contradições de sua política externa. Sejam quais forem os temas abordados — do aquecimento global à fome, da guerra na Europa ao conflito no Oriente Médio, da Venezuela à crise migratória —, a diplomacia brasileira sob o PT esbarra em obstáculos que ela mesma criou.

 

meio ambiente é um exemplo didático. Antes de assumir, Lula fez questão de se apresentar como líder do combate às mudanças climáticas. Dois anos depois, chega a Nova York com o Brasil encoberto pela fumaça da Amazônia e do Pantanal. A estação seca deste ano bateu recordes, é verdade. Mas faltaram planejamento e prevenção. O governo fez pouco para recompor órgãos ambientais, contratar brigadistas temporários e coordenar o trabalho com equipes estaduais para deter os criminosos. Lula não perde a oportunidade de exigir recursos dos países ricos para mitigar os efeitos das mudanças do clima — e está certo. Mas faria melhor se demonstrasse capacidade de gestão. A levar em conta a atual, mais dinheiro não será barreira para o fogo.

 

Na Venezuela, o histórico de homenagens e rapapés a Nicolás Maduro, recebido com honras em Brasília no início do governo, de nada adiantou para negociar uma saída para a crise desencadeada pela fraude na eleição presidencial. O vencedor nas urnas, o oposicionista Edmundo González, foi obrigado a buscar refúgio na Espanha. A repressão tem sido implacável. De Lula e de seu assessor para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, ouviram-se apernas declarações desajeitadas, sem nenhuma crítica que faça jus à fraude escandalosa. Enquanto isso, o fluxo de migrantes venezuelanos cruzando a fronteira brasileira voltou a crescer.

 

Na guerra entre Ucrânia e Rússia, os dois romperam a tradição diplomática brasileira. O território ucraniano foi invadido em 2022. Qualquer justificativa para a agressão é contrária ao direito à autodeterminação, pilar da atuação do Itamaraty. Em vez de condenar Vladimir Putin, Lula e Amorim tentam um malabarismo retórico insustentável. Querem passar por neutros, mas está claro, pelas declarações do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que o Brasil tem feito o jogo da Rússia.

 

Na visão de Amorim, o Brasil precisa se aliar a inimigos dos Estados Unidos se quiser conquistar papel de mais relevo no plano internacional. Tal lógica tem sido levada a extremos. Há duas semanas, ele se encontrou na Rússia com um representante do Conselho de Segurança Nacional iraniano, sustentáculo de grupos extremistas ou terroristas como Hamas e Hezbollah. Com a aproximação do Irã e de seus satélites, o governo quebra a tradição brasileira de equilíbrio nos conflitos do Oriente Médio e perde credenciais para exercer qualquer tipo de mediação.

 

O Brasil não é a única potência emergente em busca de mais status global. Sob Lula e Amorim, é difícil acreditar que alcance o objetivo.

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