Decepção, diz ex-secretário de Saúde sobre recuo de Nunes em relação a vacinas
Guilherme Seto / FOLHA DE SP
"Resumo meu sentimento: decepção". É o que diz Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde do governo de São Paulo durante a pandemia da Covid-19, a respeito das recentes declarações do prefeito Ricardo Nunes (MDB) sobre o enfrentamento à doença.
Em entrevistas a podcasts bolsonaristas, o emedebista disse que errou ao defender a obrigatoriedade da vacina e o fechamento do comércio durante a pandemia. Ele tem acenado aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para recuperar fatia desse eleitorado que migrou para Pablo Marçal (PRTB).
"Todas as estratégias foram técnicas e baseadas na ciência, em normativas definidas pela OMS [Organização Mundial da Saúde] e Opas [Organização Pan-Americana da Saúde]. Não se considerou desejos ou percepções individuais", afirma Gorinchteyn, que é médico infectologista.
Ele diz que as estratégias durante a pandemia agora criticadas por Nunes deram proteção à vida, já que garantiram a disponibilidade de leitos de UTI, respiradores, oxigênio e profissionais.
"Caso contrário teríamos perdido muito mais vidas, histórias e sonhos. Hoje, com a nossa população vacinada e protegida, voltamos ao nosso normal, fato que fez com que uns e outros esquecessem o quanto sofremos. Lembrarão, sim, aqueles que perderam seus entes queridos por não terem respeitado essas normativas", completa o ex-secretário.
Coordenador do coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do governo de São Paulo durante a pandemia, o médico David Uip diz que não se arrepende de absolutamente nada em relação às estratégias adotadas.
"Não tenho dúvida nenhuma de que o estado de São Paulo e o município fizeram o que tinha que ser feito, o que fez com que milhares de mortes fossem evitadas. Conseguimos conter a disseminação do vírus ao promover o isolamento social e a vacinação. Ao mesmo tempo, aumentamos o número de leitos de UTI de 3.500 para 14 mil no momento mais crítico. Não vejo erros, muito pelo contrário", afirma.
Em sua entrevista com Nunes, o bolsonarista Paulo Figueiredo exibiu um vídeo em que o prefeito defende o uso de máscara, álcool em gel e isolamento social.
"A questão da obrigatoriedade da vacina, eu tenho muito tranquilidade, depois de toda a experiência, e tenho humildade para falar isso, que hoje eu sou contra", declarou Nunes em resposta.
Também afirmou que foram equivocadas medidas como fechamento do comércio, que na época ele defendeu. "Está provado que foi errado, até por conta do que está vindo agora de estudo."
Gorinchteyn foi um dos que lideraram o combate à pandemia durante a gestão de João Doria. Ele chegou a fazer parte da pré-campanha de Guilherme Boulos (PSOL) na capital no ano passado, mas decidiu deixá-la após incômodo com o posicionamento do deputado federal a respeito do ataque do Hamas a Israel.
O médico, que é judeu, lamentou que o psolista tenha repudiado o ocorrido sem citar o grupo terrorista.