BC mantém Selic em 10,5% ao ano pela 2ª vez seguida em decisão unânime; Lula volta a cobrar corte
Por Célia Froufe (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast) / O ESTADÃO DE SP
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve, pela segunda vez seguida, a taxa básica de juros, a Selic, em 10,5% ao ano, em decisão unânime. A manutenção se deu, segundo o Copom, pelo cenário global incerto e pela elevação das expectativas de inflação.
O resultado era amplamente esperado pelo mercado, diante do aumento das projeções de inflação e de incertezas sobre a condução da política fiscal pelo governo Lula. Nesta quarta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que resiste à agenda de corte de gastos cobrada pelo mercado, voltou a pressionar o BC pela retomada do ciclo de queda dos juros.
“Hoje, temos o menos nível de desemprego, a inflação está controlada; só falta a gente reduzir a taxa de juros, que não depende só do governo, mas que a gente vai conseguir também”, declarou o petista em um evento no Mato Grosso poucos minutos antes do anúncio da decisão do Copom.
No comunicado, o comitê afirmou que “monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz o texto.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, vem crescendo na avaliação de economistas – embora ainda não seja o cenário base – a possibilidade de a taxa de juros voltar a subir ainda este ano, diante das incertezas na economia.
No comunicado, o Copom se limitou a dizer que “a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta”. “O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, diz o texto.
Desde a última reunião do Copom, de 19 de junho, quando interrompeu o ciclo de cortes e manteve a Selic em 10,5%, as projeções do mercado financeiro para o IPCA de 2024 subiram de 3,96% para 4,10%, enquanto as estimativas para 2025 – mais relevantes para a decisão do Banco Central, que olha a inflação entre 12 meses a 18 meses à frente – saltaram de 3,84% para 3,95%. Em ambos os casos, os números estão se distanciando do centro da meta de 3%.
Juros reais
Com a decisão de hoje, o Brasil passa a ter um juro real (descontada a inflação) de 7,36%, o terceiro maior do mundo, segundo levantamento do site MoneyYou. O País está atrás apenas da Turquia (12,13%) e Rússia (7,55%).
A média das 40 economias pesquisadas é de 0,63%. Segundo o BC, o juro neutro brasileiro, que não acelera nem alivia a inflação, é de 4,75%.