O olhar obtuso da professora Chaui - ISTOÉ
Além dos prejuízos ao Brasil e aos brasileiros, a corrupção petista parece produzir uma perigosa cegueira em alguns conceituados acadêmicos. Não é preciso frequentar as salas da filosofia da USP para saber que o PT de hoje nada tem a ver com o partido que a professora Marilena Chaui e muitos brasileiros do bem ajudaram a fundar em 1980. Depois de tantas operações promovidas pela Lava Jato não há cidadão que discorde: a legenda que nasceu idealista se transformou em sinônimo de corrupção e institucionalizou a roubalheira para se manter no poder e melhorar a vida de seus líderes.
Mas, além dos enormes prejuízos ao Brasil e aos brasileiros, a gatunagem petista parece produzir uma perigosa cegueira em alguns conceituados acadêmicos. É o caso da professora Chaui. Na semana passada, ao procurar defender o PT, a filósofa demonstrou estar completamente míope em sua capacidade de analisar os fatos. Ela afirmou que o juiz Sérgio Moro foi “treinado” pelo FBI e que a operação Lava Jato tem a missão de “tirar o pré-sal dos brasileiros” para atender a interesses dos Estados Unidos. Simples assim! Segundo o olhar obtuso da professora Chaui, o mar de lama em que o PT mergulhou não passa de miragem. Tudo seria fruto de uma deliberada política traçada em Washington com o intuito de destruir a esquerda e o campo progressista e assim explodir a soberania brasileira sobre suas riquezas. Se procurarmos detalhar a teoria conspiratória da professora Chaui, será possível concluir que figuras como Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Sérgio Machado, Delcídio do Amaral, José Carlos Bumlai, João Vaccari, Otávio Azevedo e etc são todos agentes dos EUA treinados para liquidar o ex-presidente Lula e seus seguidores.
Se não for cegueira, o delírio da filósofa pode talvez ser explicado pelo momento em que foi proferido. Depois de tantas descobertas da PF, muitos que ainda buscam argumentos para defender o PT não mais se satisfazem com a tese de que o partido se limitou a fazer o que os outros igualmente fizeram. Também se tornou insustentável o discurso de que as investigações são seletivas. O mesmo vale para a estratégia da vitimização. Afinal, não há registros de golpe que assegure à uma presidente afastada pelo Congresso amplo direito de defesa, pagamento de salários, equipe de assessores e transporte aéreo. Nesse sentido, pode ser que a teoria conspiratória de Chaui encontre alguma repercussão. Afinal, a mesma filósofa procurou no passado dar verniz acadêmico ao “nós contra eles” protagonizado por Lula. Em 2013, durante uma palestra em São Paulo, ela afirmou que odiava a classe média brasileira, que definiu como fascista e ignorante. “A classe média é uma abominação política, porque é fascista; é uma abominação ética, porque é violenta; e é uma abominação cognitiva, porque é ignorante”, disse a professora. Na ocasião, a classe média era o “eles” a que Lula se referia.
É uma pena que esses males tenham acometido a filósofa. Aos 74 anos, e com a respeitabilidade que tem, se ela se propusesse a estimular uma autocrítica das esquerdas e do campo progressista é provável que pudesse contribuir para a refundação de uma força política capaz de novamente reunir as esperanças dos brasileiros. Afinal, muitos que, como Chaui, ajudaram a fundar o PT têm buscado um caminho para se reaglutinarem e contribuirem para mudanças que levem à construção de um País menos desigual.