Governo Lula dá cargo a cinegrafista que fez acusação contra equipe de Tarcísio em Paraisópolis
Por Gustavo Côrtes / O ESTADÃO DE SP
O ex-cinegrafista da Jovem Pan que denunciou a tentativa de auxiliares do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de forçá-lo a apagar imagens do tiroteio ocorrido durante agenda de campanha na favela de Paraisópolis, em outubro do ano passado, ganhou um cargo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Marcos Vinicios de Andrade é coordenador de Cinegrafia da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) desde setembro, quando teve sua nomeação publicada no Diário Oficial da União. Ele está lotado na capital paulista e ganha salário líquido mensal de R$ 9,4 mil.
A EBC afirmou que “o profissional tem 30 anos de experiência como operador de câmera de unidade portátil externa e repórter cinematográfico”.
Em novembro, Andrade depôs à Polícia Federal no inquérito que investigou se partiu da campanha de Tarcísio a versão falsa de que o aquele confronto foi um atentado contra o então candidato. Conforme revelou o Estadão, o Ministério Público Eleitoral pediu o arquivamento do caso por falta de provas e pediu abertura de investigação contra jornalistas por reportagens sobre o áudio do momento em que o segurança aborda o cinegrafista.
De acordo com o relato do profissional à PF, ele estava no mesmo edifício em que os integrantes da comitiva buscaram abrigo no momento dos disparos. Ao perceber que um homem foi alvejado, correu para a rua para registrar a imagem, mas foi impedido por um homem com distintivo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e arma de fogo na mão. Tratava-se de Fabrício Cardoso de Paiva, um agente que se licenciou para acompanhar Tarcísio.
O cinegrafista contou que, em seguida, foi levado junto com o então candidato e o resto da equipe para um comitê de campanha, onde Cardoso de Paiva pediu que ele deletasse as imagens. Àquela altura, no entanto, o material já havia sido enviado para a emissora. Andrade diz que seus superiores o pressionaram a gravar um vídeo em apoio a Tarcísio para ser exibido em horário eleitoral. O funcionário diz ter se negado a fazer e pedido desligamento.
Relembre o caso
Tarcísio visitou o Polo Universitário de Paraisópolis em outubro de 2022, quando disputava o segundo turno da eleição para o governo de São Paulo contra Fernando Haddad. A agenda foi interrompida por volta de 11h40 por disparos de arma de fogo do lado de fora do edifício.
Policiais militares foram acionados e trocaram tiros com criminosos. Um homem Felipe Silva de Lima, de 27 anos, foi morto. O inquérito da Polícia Civil aponta para um policial militar como autor do disparo que o matou. Havia seguranças de Tarcísio presentes no confronto, inclusive Fabrício Cardoso de Paiva, da Abin.
O caso gerou uma ação contra o governador na Justiça Eleitoral por uso de patrimônio da União em benefício de campanha eleitoral. Isso porque o policial federal Danilo Campetti o acompanhou naquela agenda e foi visto com distintivo e arma da corporação no local.
O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) absolveu Tarcísio por unanimidade. A defesa de Campetti, que também é réu na ação, comprovou que ele estava de folga e alegou que o uso dos equipamentos da corporação não tinham relação com o ato eleitoral, e sim com o tiroteio. Também afirmou que ele havia sido candidato e participou da visita na condição de apoiador.