Conselho de Itaipu, que receberá tesoureira do PT nomeada por Lula, vira espaço para acomodação de aliados
Por Jan Niklas — Rio de Janeiro / O GLOBO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou a tesoureira do PT, Gleide Andrade de Oliveira, para o cargo de conselheira da Itaipu Binacional, com mandato até 16 de maio de 2024. Segundo publicou o colunista do GLOBO Lauro Jardim, sua remuneração mensal será de R$ 37 mil. Esta não é a primeira vez que um tesoureiro do partido ocupa a função: João Vaccari Neto deixou o órgão após ser citado nas investigações da Operação Lava-Jato. A indicação de aliados para o Conselho de Itaipu é uma prática comum dos últimos governos.
Secretária nacional de Finanças e Planejamento do PT, Gleide é formada em Filosofia e ocupou postos na prefeitura de Belo Horizonte nas gestões dos petistas Patrus Ananias e Fernando Pimentel. Em 2022, ela concorreu ao cargo de deputada federal por Minas Gerais, mas não se elegeu.
A Itaipu Binacional — responsável por controlar a Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu, no Paraná — tem um Conselho de Administração composto por 12 membros, sendo seis brasileiros e seis paraguaios. Além disso, completam o colegiado dois representantes dos Ministérios das Relações Exteriores, um de cada país. Esse órgão reúne-se a cada dois meses ou em convocação extraordinária.
Atualmente, a cota do Brasil no órgão é formada majoritariamente por ministros do governo Lula: Esther Dweck (Gestão e Inovação), Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil). Já o ministro Mauro Vieira ocupa a vaga reservada ao Itamaraty.
Completa a lista de conselheiros o ex-deputado estadual do PSDB Michele Caputo, nomeado por Lula em abril. Aliado do ex-governador do Paraná Beto Richa, ele foi uma indicação do ex-prefeito de Curitiba Luciano Ducci (PSB). A nomeação contou ainda com o apoio de Gleisi Hoffmann, que exerce forte influência em Itaipu.
Gleisi já foi diretora financeira do órgão, que é visto na política paranaense como um trunfo para projetos políticos locais. Segundo interlocutores, a abertura de uma das vagas para Caputo seria ainda um movimento de aproximação do PT com os tucanos no Paraná, tendo em vista as eleições de 2024 e até de 2026.
Agraciados
Outras nomeações de aliados políticos para o Conselho de Itaipu chamaram atenção nos últimos anos. Em 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro nomeou para o órgão a ex-governadora do Paraná Cida Borghetti, mulher do então líder do seu governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR).
Ela entrou no lugar de Carlos Marun, que por sua vez, havia sido nomeado em dezembro de 2018 pelo então presidente Michel Temer (MDB), no apagar das luzes do seu governo. Marun foi ministro da Secretaria de Governo do emedebista, era tido como o seu braço-direito e um de seus maiores aliados no Congresso. Além disso, integrou a tropa de choque do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Temer também nomeou a advogada Samantha Ribeiro Meyer, ex-mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, para ser conselheira da Itaipu Binacional. Na época, Gilmar afirmou que não tinha “contato com sua ex-mulher”.
O GLOBO questionou o Palácio do Planalto e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann sobre a nomeação de Gleide Andrade, mas não obteve resposta. (Colaborou Julia Noia)