Coluna Fábio Campos, no O POVO
Acham que o Petrolão é o maior escândalo de corrupção da história do mundo moderno? Provavelmente sim, mas convém não isolar os casos relacionados à Petrobras dos outros propinodutos montados em diversas estatais. Tudo estava sob um mesmo guarda-chuva, sob o mesmo governo, sob a mesma orientação política e, enfim, sob o mesmo método. Portanto, os escândalos devem ser somados.
Vejam só o caso da Transpetro. A empresa não passa de uma subsidiária da Petrobras, mas tinha autonomia para tocar o pretensioso projeto de criar uma poderosa indústria naval no Brasil. Bilhões e bilhões foram jogados nesse projeto. Dinheiro majoritariamente do BNDES. Os resultados foram pífios, mas a corrupção se fez magistral.
Atentem que o propinoduto da Transpetro funcionou com um sistema diferente daquele que funcionava na Petrobras. Havia um comando próprio que se reportava a outro comando político, que não era dominado pelo PT. No caso, tudo muito relacionado ao PMDB no Senado, como apontam as investigações. Durante mais de uma década, funcionou como um feudo rigorosamente controlado por Sérgio Machado. Dessa cartola, ainda sairão bilhões de coelhos.
O raciocínio é o seguinte: se a Petrobras e suas subsidiárias foram tomadas de assalto por gangues que, no fundo, as privatizaram para si, é bastante razoável acreditar que o mesmo foi feito com as dezenas de outras estatais que o Brasil mantém. Certo? Afinal, não há motivos para acreditar que fizeram o diabo com a Petrobras, mas foram probos e santinhos com as outras estatais.
O sistema Eletrobrás que o diga. A bandalheira com o BNDES começa a ser conhecida. Já se sabe muito acerca dos fundos de pensão dos funcionários de poderosas estatais. Alguns chegaram, como o dos Correios, perto de quebrar. Mal feitos no BNB estão vindo à tona.
Ainda em 2015, o País ficou boquiaberto quando se soube que um gerente da Petrobras, cargo do terceiro escalão da estatal, havia concordado em devolver 96 milhões de dólares que recebera de propina. Ora, se um gerente levava isso de jabaculê é de se imaginar a dimensão da coisa. As delações da Odebrecht vão dar mais clareza a tudo. É provável que as devoluções relacionadas à Transpetro sejam equivalentes a alguns Baruscos.
A fase mais pública e ostensiva da Lava Jato começou em março de 2015. Portanto, há dois anos e três meses. Desde então, o País bebe e come Lava Jato. A dinâmica da política passou a depender dos desdobramentos da Operação. A presidente foi afastada e o vice assumiu. No entanto, as investigações continuam e provavelmente completará três anos.
Um mundo de crimes e criminosos ainda será conhecido. Muitas sentenças serão proferidas. A coisa toda ainda vai para outras instâncias do Judiciário. Com sua lentidão bovina, o STF nem sequer iniciou sua cota de julgamentos. Os desdobramentos vão durar anos e anos. É um roteiro que dificilmente um ficcionista conseguiria montar. Um roteiro que o País não deve esquecer jamais.
Fortaleza escapou por pouco
Lembram-se do estaleiro que um grupo privado, com financiamento do BNDES, pretendeu montar em plena Praia do Titanzinho? Pois é. Na época foi uma articulação iniciada por Sérgio Machado, via Transpetro. Aqui, o então governador Cid Gomes se tornou o principal defensor da obra. O principal argumento de Cid era a geração de empregos. Cerca de 800, ou 10% do que projeta gerar o shopping Riomar.
O Ceará daria mundos e fundos para o negócio se viabilizar, incluindo o terreno e a infraestrutura necessária. Mas havia algumas pedras no caminho. Entre elas, a então prefeita Luizianne Lins, que disse “não” ao projeto. Os urbanistas também foram ao ataque contra a obra. Um artigo do arquiteto Fausto Nilo no O POVO foi um marco.
A cidade deve ser grata a todos os que ficaram contra a ideia do estaleiro em pleno litoral de Fortaleza. Além das inadequações urbanísticas e ambientais, se o projeto tivesse prosseguido teríamos hoje um imenso esqueleto privado e fechado, além de uma praia degradada na cidade. A quimera da nova indústria naval brasileira virou um pesadelo de corrupção e falências.