Veja três orientações antes de usar uma das novas medidas para destravar o crédito anunciadas pelo governo
Por Caroline Nunes — Rio / O GLOBO
O Ministério da Fazenda anunciou 13 medidas que visam facilitar o acesso ao crédito. Garantia com recursos previdenciários e novo marco de garantias estão entre as ações que constam no pacote que foi encaminhado para o Congresso. As medidas podem até animar quem está endividado, mas é preciso ter cuidado no momento de solicitar crédito para não correr o risco de fragilizar ainda mais a sua situação financeira.
O GLOBO conversou com a coordenadora do programa de Serviços Financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim para entender quais cuidados os consumidores devem ter com as novas ações.
Todo crédito é um risco
O primeiro alerta da economista é o fato de que todo tipo de crédito é um risco, até mesmo aqueles com promessa de juros mais baixos. Ione orienta que antes de pensar em optar por qualquer formato empréstimo, se faça uma análise do orçamento da família.
— Quando você toma algum credito você está comprometendo sua renda futura. Por isso é preciso fazer o exercício. antes de tomar o crédito, de colocar no papel todos os seus gastos, inclusive os empréstimos já contratados. É preciso tomar cuidado pra não continuar dependente desses créditos no futuro, porque, no fim, você pode só estar empurrando para frente a realidade de endividamento que está vivendo hoje — aconselha.
Avalie as alternativas com cuidado
Uma das propostas do governo é que o uso de recursos de planos como previdência complementar, Fundo de Aposentadoria Programada Individual (Fapi) e seguros pessoais possam ser permitidos para garantia de crédito a juros mais baixos.
Para Ione Amorim, a medida é válida para o consumidor, porque com a garantia os juros do empréstimo serão menores.
No entanto, pontua a economista, é preciso avaliar a alternativa com atenção. E nunca usar essa alternativa para viabilizar as compras do seu dia a dia.
Isto porque em caso de inadimplência o cidadão estará comprometendo suas economias ou uma receita futura que deveria complementar a aposentadoria. Isso pode acabar tornando a sua situação financeira ainda mais fragilizada, já que suas economias serão usadas para o pagamento da dívida.
— Você vai colocar a sua reserva que é pra garantir o futuro como garantia de um crédito. Se esse crédito for para a situação de consumo imediato é uma decisão errada. Você está se expondo ao risco, mesmo com a taxa de juros baixa. É preciso lembrar que até os juros baixos causam endividamento. Você até poderia utilizar a reserva como garantia, mas em em situações emergenciais e com planejamento, como fazer uma cirurgia, reformar uma casa — alerta Ione Amorim
Cuidado para não multiplicar o risco
Se aprovado, o novo marco de garantias permitirá ainda que um bem, como carro e casa própria, possa ser oferecido como garantia em mais de uma operação de crédito. Como o O Globo já exemplificou, se o bem for avaliado em R$ 200 mil e a dívida anterior é de R$ 50 mil, será possível usar os R$ 150 mil restantes em outro empréstimo no mesmo banco.
A especialista alerta para a possibilidade do risco ser multiplicado pela quantidade de empréstimos. Não é o valor de um patrimônio que determina a capacidade de pagamento de alguém e essa capacidade não é elástica, destaca a economista.
Cada pessoa precisa ter noção de que a sua capacidade corresponde à sua renda mensal e se não levar isso em consideração pode acabar perdendo o seu patrimônio.
— Essa medida é cabível para outros bens que não sejam sua moradia, por exemplo. Porque se não tiver um planejamento, a pessoa corre o risco de perder seu patrimônio. O mais importante é que cada pessoa questione o que está causando esse desequilíbrio financeiro que gera a necessidade de tantos créditos — finaliza.