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Haddad aceita reunião com MST, que mantém áreas invadidas; Fávaro volta ao Brasil em meio à crise

Por Pedro Venceslau e José Maria Tomazela / O ESTADÃO

 

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, cancelou a palestra que faria a empresários nesta sexta-feira, 21, no Lide Brazil Conference, em Londres, e retornou ao Brasil em meio à crise causada pelas invasões realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) desde o último domingo, 16, na retomada do chamado “Abril Vermelho”.

 

Como parte da ofensiva no campo, o movimento voltou a invadir fazendas produtivas da Suzano, ocupou sedes do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) e invadiu área de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Pernambuco. Até o momento, as propriedades seguem ocupadas, mesmo após o governo Lula ceder cargos no Incra e renovar apelo em defesa das reintegrações de posse. Ainda assim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, divulgou em sua agenda oficial um encontro previsto para o fim da tarde de hoje com o comando nacional do MST em São Paulo.

 

Na noite de quarta, 19, o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, voltou a pedir que o movimento desocupe as áreas de pesquisa da Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), invadidas desde domingo, 16, e da Suzano, em Aracruz (ES), tomadas na segunda-feira, 17. O movimento se comprometeu a sair das propriedades, mas ainda não efetivou a desocupação.

 

Na manhã desta quinta, pelo menos seis áreas invadidas pelo MST no “Abril Vermelho” continuavam ocupadas, inclusive as terras citadas por Teixeira, segundo o próprio movimento.

 

Ação ‘vitoriosa’ e cobranças renovadas

Em nota divulgada no final da manhã de hoje, o MST fez um balanço positivo da “jornada de lutas”, destacando que realizou “29 ocupações desde o início do ano” e que o governo abriu canais de negociações para atender as demandas do movimento. “A nossa avaliação é que a jornada foi vitoriosa”, afirmou Ceres Hadich, da direção nacional do MST, uma das participantes previstas da reunião com o ministro da Fazenda. “Nossa impressão geral é de abertura do governo para atender nossa pauta, com o governo abrindo negociação e criando grupos de trabalho para atendê-la.”

Segundo o MST, o Incra sinalizou para a possibilidade da criação imediata de novos assentamentos, e retomada de processos de aquisição ou desapropriação de terras. Após a troca de comando em 19 superintendências do instituto, emplacando nomes de sua preferência, o movimento cobrou novas nomeações. “Sete Estados ainda seguem sem um novo responsável: Rondônia, Roraima, Alagoas, Tocantins, Amazonas e Amapá e Minas Gerais”, disse a nota.

Com relação às áreas da Embrapa e da Suzano, invadidas em Pernambuco e no Espírito Santo, respectivamente, ambas com mandados de reintegração de posse deferidos pela justiça, o MST fez novas exigências para desocupar as terras: “As famílias sem terra sairão das áreas ocupadas quando o governo autorizar a vistoria de cinco áreas em Petrolina (PE) e criar uma mesa de negociação entre MST, Suzano, governo federal e governo do Espírito Santo”.

Sinais trocados

Enquanto o ministro Paulo Teixeira tem evitado usar termos mais duros desde o início da crise, o titular da Agricultura classificou a ação do MST em suas redes sociais como “crime” e “inaceitável”. Fávaro tem destoado do restante do governo no que diz respeito à atuação dos sem-terra. Ele chegou a Londres na terça-feira, 18, após as primeiras invasões do fim de semana, e embarcou de volta ao Brasil na noite de ontem.

Estadão apurou que o ministro justificou a tensão com os sem-terra como motivo do cancelamento de sua palestra. Fávaro informou ao Lide que retornaria por causa das invasões e disse o mesmo para políticos com quem conversou na capital inglesa.

A ofensiva do movimento foi alvo de críticas dos governadores - aliados e de oposição ao Governo Lula - que participam do evento do Lide em Londres. A ex-ministra do Meio Ambiente no governo Dilma, Isabela Teixeira também condenou a atuação dos sem-terra.

“É preciso racionalidade na interlocução da agenda dos direitos do uso da terra no Brasil, mas sem invadir terra pública e propriedades. O diálogo político existe para isso. O MST tem uma maturidade política muito grande, pelo menos na minha época tinha. Isso não contribui. Dificulta o diálogo. Eles têm direitos, mas também têm deveres”, disse a ex-ministra.

Em entrevista ao Estadão, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que abriu o seminário em Londres, cobrou a repressão a invasões. “Invasões são contrárias à lei e tudo que for contrário a lei deve ser coibido e evitado”, declarou. “O governo tem o compromisso de reprimir esse tipo de atitude. Se a reivindicação é ter a titularidade da terra, que se adote o procedimento adequado sem o uso arbitrário das suas próprias razões”, afirmou.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), fez coro à repercussão negativa: “Na hora que o movimento invade uma área da Embrapa, uma sede do Incra e propriedades produtivas, ele perde apoio político. O momento exige uma reflexão do movimento e um processo mais acelerado de políticas públicas no setor agrário”, disse o chefe do Executivo capixaba.

Também aliado de Lula, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), saiu na mesma linha. O “Abril Vermelho” é alusivo ao massacre de Eldorado dos Carajás (PA), onde 18 sem-terra foram mortos por policiais em 1996, enquanto ocupavam uma rodovia. “É fundamental que o Brasil possa ter tranquilidade no campo e segurança jurídica da propriedade de terra. Deve se combater toda ilegalidade. Desejo que se construa uma pacificação desse ambiente e que possa valer a justiça para coibir toda e qualquer ilegalidade”, disse Helder.

Filiado ao PL de Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, definiu os objetivos do movimento como estritamente políticos: “Que bom o governo está criticando a ação do MST de áreas públicas produtivas. Eles têm de rever o que querem. Não pode acontecer uma invasão dessa só para terem apoio político. Me prece muito mais uma ação política. Esse movimento é estritamente político. quem faz balbúrdia perde a razão“, disse Castro.

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