Por que Lula adiou a conversa decisiva com Lewandowski sobre o STF
Por Rafael Moraes Moura — Brasília / O GLOBO
Uma cena chamou a atenção de quem acompanhou na última quarta-feira (22) o almoço que reuniu na sede do Palácio do Campo das Princesas, no Recife, o presidente Lula e a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB).
Enquanto eram servidos salmão, cordeiro, feijão tropeiro, arroz e salada para os convidados, Lula e o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), não paravam de cochichar.
Lewandowski e Lula estavam em Recife para homologar o acordo que permitiu a gestão compartilhada entre o governo federal e as autoridades pernambucanas do território de Fernando de Noronha, uma disputa que o ministro esperava e conseguiu pacificar antes de se aposentar, em abril.
Mas havia também a expectativa, tanto no meio jurídico quanto no político, de que Lula e Lewandowski tratassem de uma outra questão em que o ministro espera ter influência decisiva: o de quem vai ficar com a sua cadeira no Supremo.
Mas como o presidente da República tinha um evento na Paraíba antes do Recife e, depois, foi para o Rio de Janeiro, ele e Lewandowski não puderam pegar o mesmo avião nem na ida e nem da volta. E no almoço, apesar dos cochichos, não conseguiram discutir o assunto com calma, com tantas autoridades em volta.
O que os dois combinaram foi de conversar reservadamente sobre o assunto em abril, depois que Lula voltar da China.
O ministro do Supremo defende a escolha do diretor jurídico da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Brasília, Manoel Carlos, que foi assessor de Lewandowski no STF e do TSE, para a sua vaga.
A expectativa dos lulistas é de que Lewandowski tenha papel importante na decisão de Lula – embora ninguém ache que o presidente desistiria de Cristiano Zanin, considerado favorito, se essa for a escolha.
Zanin foi advogado e autor da tese jurídica da suspeição de Moro e que levou à sua soltura, mas o nome não é consenso nem mesmo dentro do PT.
Outro magistrado que parece bem cotado na bolsa de apostas é o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.
Dos atuais 11 ministros, sete foram indicados por Lula ou por Dilma Rousseff. O presidente já confidenciou a interlocutores que se arrepende de algumas escolhas feitas para a Suprema Corte – e por isso avisou que não quer cometer novos erros e que sua escolha será pessoal.
Isso por que, em abril de 2018, num dos julgamentos decisivos de sua trajetória política, cinco ministros indicados pelo PT votaram contra um pedido da defesa para que Lula aguardasse em liberdade até o esgotamento de todos os recursos na ação do triplex do Guarujá: Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e a atual presidente da Corte, Rosa Weber. Alexandre de Moraes, indicado por Michel Temer, também aderiu a essa corrente.
Por 6 a 5, o Supremo negou o habeas corpus. Como Lula já havia sido condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a decisão abriu caminho para a prisão.
O petista ficou 580 dias na superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Três anos depois, o mesmo Supremo derrubou as condenações de Lula na Lava Jato e declarou o ex-juiz federal Sergio Moro parcial nesses processos.
Nas duas ocasiões, Lewandowski votou alinhado à posição de Lula: contra a prisão do petista e a favor da suspeição de Moro, arquirrival do presidente da República. Nesse segundo julgamento, em um longo voto de 86 páginas, Lewandowski usou quatro vezes a palavra “perplexidade” para se referir à condução da ação do triplex do Guarujá por Moro.
Em razão dessa postura, Lula tem dito aos aliados que dará a Lewandowski espaço para opinar na escolha de seu sucessor. Que poder ele terá sobre a escolha do presidente da República, porém, ainda é difícil dizer. Ninguém sabe ao certo – e agora, por conta do calendário, o próprio Lewandowski só saberá em abril.