Como Juscelino Filho ainda é ministro?
Por Carlos Andreazza / O GLOBO
Como Juscelino Filho ainda é ministro? Desde o dia da nomeação estava avisado. É furada. A existência política do deputado maranhense deriva do poder que reuniu como privilegiado patrono de emendas do orçamento secreto. Foi isso que o cacifou, via apadrinhamento de Davi Alcolumbre, à condição de ministro das Comunicações? Um elogio, pois, à cultura do orçamento secreto? Sempre foi furada.
Ainda assim, Lula o mantém como ministro das Comunicações. Estamos em março. Sempre foi furada, e agora parece falta de juízo. Sim, haveria um cálculo político: o sujeito é do União Brasil – e o governo precisa do União Brasil. Mas de qual União Brasil é Juscelino Filho? Porque são vários, com vários donos, alguns dos quais bons vendedores de terrenos na lua. O que indica outra coisa: o governo precisa do União Brasil, mas o União Brasil não tem unidade capaz de sustentar apoio representativo ao governo Lula. É miragem. Você pensa se acercar do oásis, nunca chega, mas gasta energia...
Não existe União Brasil. Existe oferecer miudamente a cada votação de interesse.
Por que, então, Juscelino Filho é ministro? Entende de comunicações como eu de cavalos. Está todo enrolado e – para ofertar pragmatismo – não entrega voto. Ninguém no União Brasil, nos vários, morrerá por ele. Nem Alcolumbre. O governo Lula nada perderá de União Brasil ao demitir o homem. Afinal, não se perde o que não se tem.
De modo que: se deixa ficar, e se o tipo vai ficando, a permanência comunica mal sobre compromissos eleitorais do novo governo em romper com as práticas do governo passado. Juscelino Filho protagonista no Parlamento é produto da relação de Bolsonaro com o Congresso. Já é falta de juízo.
Você não se lembra de Juscelino Filho? Já tratei do homem algumas vezes. Aquele, então deputado, que destinou milhões de reais, por meio do orçamento secreto, para obras de pavimentação que beneficiavam a fazenda dele, em Vitorino Freire, no Maranhão – cidade cuja prefeita é sua irmã. E o asfaltamento traz para o rolo empreiteira de amigo da família... Padrão.
Falei em cavalo. O ministro curte. Cria. Nada contra. Acho bonito. Feio é usar avião da FAB, a título de urgência, para agenda dedicada sobretudo a leilões de cavalos de raça – levando ainda R$ 3 mil em diárias. Viaja, faz visitinha institucional à operadora de telefonia em São Paulo, passa trinta minutos no escritório da Telebrás, mais uma hora na representação paulista da Anatel, isto tudo entre quinta e sexta (até meio-dia), dias 26 e 27 de janeiro, e depois – ganhando diárias até a segunda, dia 30, fim de semana adentro – vai curtir a paixão pelo Quarto de Milha.
Não é aceitável.
No sábado, dia 28, lembrando-se de súbito da condição de ministro das Comunicações, ao reinaugurar praça, na cidade de Boituva, batizada com o nome de cavalo de um sócio dele, o Roxão, Juscelino prometeu internet livre... na “Praça do Roxão”.
As informações são do Estadão. O jornal também contou que, ao registrar a candidatura à reeleição no ano passado, o deputado Juscelino escondeu do Tribunal Superior Eleitoral um patrimônio de ao menos R$ 2 milhões em em cavalos da raça.
Feio também é omitir o tamanho da paixão. Quem ama declara. Nunca se sabe o dia de amanhã.