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AGU vai pedir exclusão de posts que considerar ‘desinformação’ e ameaça à democracia

Por Tácio Lorran / O ESTADÃO

 

BRASÍLIA - O procurador-geral da União, Marcelo Eugênio, confirmou hoje ao Estadão que a advocacia do governo vai atuar para pedir a exclusão de posts que considerar desinformação. O assunto tem causado polêmica sobre qual o conceito que o governo irá usar para definir o que é ou não desinformação e abriu discussão sobre risco de censura nas redes sociais.

 

O perfil oficial no Twitter da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República tem sido alvo de críticas devido ao compartilhamento de informações consideradas inverídicas. Nessa terça-feira (24/1) o governo publicou que não há risco de prejuízo nos financiamentos do BNDES. “Os acordos têm garantias, seguro e há um larga tradição de receber o que emprestou”, diz a imagem, cuja publicação principal tem mais de 170 mil visualizações às 17h desta quarta.

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também alegou que não é possível corrigir a tabela do Imposto de Renda já em 2023 por conta do chamado princípio da anterioridade. No entanto, isso não se aplicaria ao reajuste na faixa da isenção, desde que o governo reduza o imposto para todas as faixas, e não aumente para nenhuma. A página oficial do Palácio do Planalto também tratou de “golpe” o impeachment de Dilma Rousseff, o que é uma inverdade.

 

As ações contra o que o governo entender como desinformação serão elaboradas na recém criada Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia, vinculada à Advocacia-Geral da União (AGU). “Vamos atuar em qualquer ameaça à integridade da nação. Eventualmente, se houver algo dessa natureza, dentro, efetivamente, do conceito de desinformação, é possível [atuar na exclusão de publicações]”, afirmou ao Estadão o procurador-geral da União, Marcelo Eugênio.

 

Ele explicou que o conceito de desinformação ainda será definido e negou se tratar de censura. “O raio de ação da Procuradoria é garantir a liberdade de expressão. Quando se tem fluidez na desinformação, existe uma limitação da liberdade de expressão. Mas o nosso foco é a integridade da ação pública, risco da ação pública, do acesso aos serviços públicos, da deslegitimização dos poderes”, explicou, ao afirmar que extremismo não tem lado, nem direita nem esquerda.

 

O procurador vai coordenar o grupo de trabalho da Procuradoria. A equipe deve ouvir a sociedade civil e especialistas sobre o assunto. Representantes das plataformas digitais também foram convidados para o debate.

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou a nova Procuradoria dentro da estrutura da AGU para atuar em nome do governo no combate à “desinformação sobre políticas públicas”. Não existe, no entanto, no ordenamento jurídico do País a definição do conceito de desinformação. Como mostrou o Estadão, críticos da iniciativa veem risco de avaliações arbitrárias no órgão ligado à AGU que atua na defesa do governo na esfera judicial.

 

Nesta manhã, o ministro-chefe da AGU, Jorge Messias, recebeu jornalistas para apresentar a nova gestão do órgão. Um dos principais desafios, segundo ele, é a atuação na defesa da democracia. “Nós não temos o direito de ser amador nesse tema. Nós sabemos que há um ecossistema de desinformação estritamente profissional, monetizado e colocado a serviço de desestabilização das instituições democráticas. É nosso dever constitucional zelar, guardar, pelas instituições democráticas. O Estado precisa estar preparado para responder esse desafio”, disse.

 

Messias ponderou, contudo, que a AGU não vai virar fiscal de redes sociais. “A desinformação corrói a confiança da sociedade nas instituições democráticas. A AGU vai virar fiscal de redes sociais? Jamais. Nós temos que ter uma visão estratégica de que a nossa atuação precisa ser certeira. Estamos falando aqui de que desinformação? A desinformação que coloca em risco o acesso aos serviços públicos e às políticas públicas, que compromete a ordem pública.”

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