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Dino diz que financiadores de ‘Capitólio brasileiro’ foram identificados em 10 Estados

Por Felipe Frazão / O ESTADÃO

 

BRASÍLIA - A Polícia Federal já identificou, em dez Estados, suspeitos de elo econômico com a tentativa de golpe de Estado em Brasília neste domingo, dia 8. A informação é do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Os nomes não foram divulgados pelo ministro, mas eles começaram a ser vinculados aos atos de ataque aos Três Poderes por meio das caravanas bolsonaristas. Os suspeitos teriam financiado a contratação de ônibus e material para levar extremistas à capital federal e devem agora ser alvo de medidas cautelares, requisitadas pela Polícia Federal.

Dino afirmou que a responsabilização penal precisa alcançar quem não estava presencialmente nos atos e chegar aos financiadores e organizadores. Ele revelou que já existem mandados de prisão já expedidos e que outros pedidos de prisão temporária ou preventiva devem ser enviados à Justiça pela PF.

Polícia Militar do DF e Exército desmobilização acampamento no QG - FOTO WILTON JUNIOR / ESTADÃO
Polícia Militar do DF e Exército desmobilização acampamento no QG - FOTO WILTON JUNIOR / ESTADÃO 

Em balanço apresentado, o ministro afirmou que ainda no domingo 209 pessoas foram presas em flagrante e que, nesta segunda-feira, foram efetuadas 1,5 mil prisões ao todo, sendo a grande maioria de bolsonaristas que acampavam no entorno do Quartel-General do Exército. Eles ficarão detidos na Academia Nacional de Polícia Federal. Cinquenta equipes da PF identificam e ouvem os detidos.

Dino afirmou que eles poderão ser enquadrados de forma múltipla em crimes, entre eles: golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, associação criminosa e lesão corporal.

A investigação foi dividida ma PF em três inquéritos sobre os ataques: um dedicado ao Planalto, um ao Congresso e um ao Supremo. Os financiadores, incentivadores e mentores serão investigados nas três frentes.

Dino afirmou que os atos eram financiados e que os ônibus contratados são um dos meios de investigar os responsáveis. Ele afirmou que a polícia já tem a lista de contratantes dos coletivos que formaram caravanas e que o objetivo delas não era uma “excursão turística”. Q

uarenta ônibus foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal, alguns tentando escapar de Brasília por rodovias federais. Ao menos uma arma de fogo foi apreendida. A PRF desbloqueou na noite deste domingo, sem que houvesse resistência, nove estradas que haviam sido parcialmente obstruídas, em sequência aos atos.

O ministro disse que o “pior passou”, menos de 24 horas depois dos ataques às sedes dos Três Poderes do Brasil. “O País caminha para absoluta normalização institucional com muita velocidade. Tanto entre instituições civis quanto militares reina a plena compreensão quanto à importância da proteção da democracia. Golpistas e criminosos em geral não obtiveram êxito na ruptura da legalidade”, disse Dino. “Vivemos ontem o Capitólio brasileiro, com duas diferenças, não tivemos óbitos e temos muito mais presos aqui do que lá. Mas não tenham dúvida de que vivemos o Capitólio brasileiro. As instituições sobreviveram a este vil ataque político.”

A comparação com o episódio de 8 de janeiro em Brasília é direta com o ataque ao Capitólio, o Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021, para impedir a posse de Joe Biden na Casa Branca. Dino afirmou que o objetivo dos atos golpistas era “gerar um efeito dominó” para produzir um “quadro de anomia” que propiciasse “novas aventuras”.

“As Forças Armadas brasileiras até aqui se mantiveram fiéis à legalidade democrática. Esse é um fato que deve ser saudado. De um modo geral, eu diria que o pior passou”, disse Dino.

Apesar disso, o ministro reconheceu que houve um choque na noite anterior entre tropas da Polícia Militar e o Exército. Unidades motorizadas da PM distrital se deslocaram ao Setor Militar Urbano para efetuar prisões, mas a Polícia do Exército barrou a entrada, formando um cordão de isolamento duplo, inclusive, com uso de dois blindados de guerra Guarani. A PM acabou por deixar o local sem atuar. E golpistas voltaram sem dificuldades ao acampamento.

Foi necessária uma reunião entre ministros de Lula e o comandante-geral do Exército, no QG, quase simultânea, para combinar ações de prisão e desmobilização do acampamento, que seriam realizadas apenas na manhã desta segunda.

“Havia um problema de jurisdição, porque é uma área sob servidão militar. É algo próprio de um momento de dificuldade, de crise. Consideramos o episódio superado. Foi necessário um ajustamento entre a instituição civil e a militar”, justificou o ministro.

Dino saiu em defesa do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e afirmou que o colega de Esplanada não deve ser “martirizado”. Múcio tem sido criticado dentro e fora do governo. Ele discordava de Dino e pregava a necessidade de conduzir uma retirada negociada e não à força de grupos bolsonaristas, entre eles extremistas e defensores de intervenção militar, que ocuparam o entorno de quartéis no País em rechaço à eleição de Lula. “Não pode ser posta em dúvida a sinceridade, a lealdade e a correção de Múcio”, afirmou o ministro Dino.

O ministro afirmou, novamente, que autoridades políticas têm responsabilidade sobre os atos de agressão aos poderes. Referia-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele disse que o objetivo dos grupos era promover um “golpe de Estado”. “Palavras têm poder e essas palavras se transformaram em ódio e destruição”, afirmou. “Vivemos um stress institucional inédito na democracia brasileira, mas foi ultrapassado.”

Dino afirmou que, em tese, não se pode descartar um futuro pedido de extradição de Bolsonaro, recolhido nos Estados Unidos. Ele negou, porém, que a medida tenha sido solicitada ao governo Joe Biden. O ministro tem repetido que a responsabilidade jurídica do ex-presidente não foi apurada.

O ministro disse que o discurso de ódio das redes sociais ganhou no domingo braços, pernas, pedras, tiros e bombas. Dino afirmou que o extremismo foi derrotado, embora não “cabalmente varrido” da cena política brasileira, mas deverá ficar “latente” e esperar a eleição de 2026.

A Polícia Federal já realizou perícias no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal, para instrução de inquéritos civis e criminais. Segundo o ministro, a Advocacia-Geral da União (AGU) vai promover ações para reparação de danos ao patrimônio público. Essas perícias vão dimensionar os danos e prejuízos “para que a AGU cobre indenização de quem perpetrou danos materiais, alguns irreparáveis, ao edifício-sede (da Presidência) e ao patrimônio histórico tombado”.

O governo federal recebeu enviou de policiais militares de 10 Estados, um reforço no contingente da Força Nacional de 500 homens, para proteção da Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes.

“Vai ficar muito nítido que há união nacional”, disse o ministro, que relatou ter conversado com os governadores de oposição Cláudio Castro (PL), do Rio, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo.

Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública indicam o recebimento de 13 mil denúncias após os atos, que estão em processo de triagem.

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