Bolsonaro quebra silêncio a apoiadores: ‘Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês’
Por Lorenna Rodrigues e Bruno Luiz / O ESTADÃO
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou a apoiadores na tarde desta sexta-feira, 9, em Brasília, que “nada está perdido” e que eles são responsáveis por decidir o futuro do País e “para onde vão as Forças Armadas”. Na primeira fala a simpatizantes desde a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o chefe do Executivo fez um discurso ambíguo. Ao mesmo tempo em que disse “respeitar as quatro linhas da Constituição”, sinalizou para o questionamento ao resultado das eleições.
“Nada está perdido. O final, somente com a morte. Quem decide meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês”, afirmou em frente ao Palácio do Alvorada, enquanto apoiadores pregavam uma ação de militares para evitar a posse de Lula.
“Hoje estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada, um destino que o povo tem que tomar”, disse o atual presidente. “Nunca saí das quatro linhas da Constituição e acredito que a vitória será dessa maneira.” Ele ainda reforçou aos apoiadores que “vamos vencer” e que “se Deus quiser, tudo dará certo no momento oportuno”. O chefe do Executivo não especificou, entretanto, em que âmbito e como se daria esta vitória.
A presença de Bolsonaro animou seus apoiadores, que entoaram gritos de “ladrão” e “fora, comunismo” em protesto contra a eleição de Lula. Até então, apenas o candidato a vice de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, havia conversado com manifestantes no local. Ele estava ao lado do presidente durante a fala nesta sexta.
Bolsonaro citou o “eu autorizo”, mote utilizado por simpatizantes para defender um “autogolpe” por parte do atual presidente. “Não é ‘eu autorizo’, não, é o que eu posso fazer pela minha pátria. Não é jogar a responsabilidade para uma pessoa”, declarou, ao sugerir que apoiadores deveriam fazer algo pelo País, sem também especificar o quê.
“Não podemos esperar chegar lá na frente, dizer o que eu não fiz lá atrás para chegar a esta situação. O tempo voa, cada minuto é um minuto a menos. Temos como mudar o futuro da nossa Nação. Com o mesmo ingrediente ninguém pode fazer um bolo diferente. Esse ingrediente que temos pela frente, nós sabemos lá atrás o que aconteceu”, disse, em provocação ao presidente eleito.
O chefe do Executivo também comentou o período que passou em silêncio após a derrota e falou em dor “na alma”. “Estou há praticamente 40 dias calado. Dói na alma, sempre fui uma pessoa feliz no meio de vocês, mesmo arriscando a minha vida.”
“Se algo der errado porque eu perdi a minha liderança, eu me responsabilizo. Mas peço que não critiquem sem ter certeza absoluta do que está acontecendo”, afirmou. Bolsonaro disse também que tem assistido “dia após dia a absurdos acontecerem na nossa pátria” e afirmou estar “lutando pela liberdade daqueles que nos criticam”.
Ele destacou aos apoiadores que “uma de suas funções na Constituição é ser o chefe supremo das Forças Armadas” e disse que os militares são “o último obstáculo ao socialismo”. O presidente ainda falou que o Brasil precisa que “suas leis sejam cumpridas”, seguido por gritos de apoio do grupo concentrado na Praça dos Três Poderes.
Bolsonaro quebrou o silêncio no mesmo dia em que Lula anunciou os nomes que irão comandar cinco ministérios, entre eles o de José Múcio Monteiro, à frente da pasta da Defesa. A escolha de Lula pelo ex-deputado federal e ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) é vista como uma forma de apaziguar a tensa relação entre o petista e a caserna. Múcio tem bom trânsito nas Forças Armadas.