Recuperação do PIB foi melhor do que se previa
A economia brasileira esfria, lentamente, como mais ou menos previsto e previsível. Mas continua a andar em ritmo mais acelerado do que se imaginava. Mesmo que a produção ou a renda (o PIB) deste trimestre final do ano não aumente (em relação ao trimestre anterior), cresce 3,1%.
Bom? Hum. Na média dos últimos quatro anos (2019 a 2022), teria então crescido perto de 1,5% ao ano. O mesmo ritmo de 2017 a 2019. É menos do que medíocre. A dúvida é saber se o desempenho mais recente tem alguma novidade. Isto é, se é mais do que compensação da paradeira de 2020: se é uma demonstração de que o PIB agora pode crescer um pouco mais do que 1,5% ao ano.
Na hipótese otimista, "reformas" econômicas (trabalhista, previdenciária, facilitação de investimento privado) teriam aumentado um tico o potencial de crescimento brasileiro. É possível que, por causa da epidemia e na reconstrução, empresas tenham adotado métodos mais eficientes de produzir. Ainda não dá para saber.
Quanto ao futuro imediato, 2023 deve ser de crescimento menor, por causa das taxas de juros altas e do resto do mundo, que vai capengar. O ritmo pode ser melhor ou pior, a depender do que vá se fazer do problema fiscal: se o governo Lula 3 vai arrumar um jeito de conter o crescimento da dívida pública. Se não arrumar e tudo mais constante, as taxas de juros permanecerão altas, o dólar continuará caro, a inflação cairá menos.
Quanto ao terceiro trimestre, não houve surpresa. O crescimento foi de 0,4% em relação ao segundo trimestre. A mediana das estimativas dos economistas dava 0,6%. Mas não se pode dizer que o resultado foi "menor do que o esperado" porque houve revisões do crescimento de 2021 (que foi de 5%, não de 4,6%) e de 2022.
Assim, as estimativas dos economistas foram meio para o vinagre. Antes das revisões, o crescimento esperado para 2022 estava na casa de 2,8% (supondo que o quarto trimestre seja de estagnação). Agora, vai para 3,1%, como se notou no início deste texto.
Até o terço inicial deste ano, previa-se que o PIB encolheria no segundo semestre. Mas vai crescer, embora se estime que o quarto final do ano seja de estagnação, ou quase isso. Ainda estamos no embalo da recuperação extraordinária no setor de serviços, depois do pior da epidemia, e da construção civil.
Quanto à "demanda doméstica", consumo das famílias, consumo do governo e investimento cresceram 1,4% (ante 1,9% no segundo trimestre). O resultado do PIB foi menor porque estamos importando mais bens e serviços do que exportando (estamos gastando mais lá fora do que aqui dentro, grosso modo). Talvez seja um sinal de que estejamos crescendo perto de algum limite (dada a inflação e esse déficit externo).
Os resultados do comércio e do consumo privado em geral, no PIB e nos dados parciais do quarto trimestre, indicam que o crescimentozinho de curto prazo está para dar uma parada. Sem novidade. A onda de reabertura e de reconstrução da economia pós-epidemia está passando. As taxas de juros aumentaram. O mundo cresce menos. Etc.
A taxa de investimento foi de 19,6% no terceiro trimestre. Grosso modo, isso é quanto do PIB foi reservado para aumentar a capacidade de produção (novas instalações produtivas, mais máquinas, equipamentos, softwares, residências etc.). É o melhor resultado trimestral desde 2014.
Ainda é pouco, em um país com muito por fazer, mas não está mal. Neste século, é inferior apenas à dos anos de 2008 a 2014 (embora em 2014 o país estivesse claramente batendo pino, investindo e crescendo além da capacidade).
Essa taxa precisa aumentar, sem criar desequilíbrio (inflação, déficit externo). Para tanto, precisamos de taxas de juros mais baixas (que não virão, se a situação fiscal continuar ruim), facilitação de investimento privado e, pelo menos, de reforma tributária. No curto prazo, é o que temos.