Agricultura desafia o pessimismo
16 de maio de 2022 | 03h00
Num mercado mundial de alimentos conturbado pelos efeitos da guerra na Ucrânia, com a interrupção de fornecimento de alguns dos principais itens do setor agropecuário e a alta explosiva dos preços, a agricultura brasileira continua a dar sinais muito positivos. Na economia brasileira, é o segmento em que há tempos evita que o resultado geral seja ainda pior do que aquele que se observa e, ao mesmo tempo, assegura, junto com os produtos minerais, os bons resultados da balança comercial.
A mais recente estimativa da produção de grãos feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de colheita de 271,8 milhões de toneladas na safra 2021/2022, volume 6,4% maior do que o colhido na safra anterior (255,5 milhões de toneladas). O resultado deste oitavo levantamento é menor do que o da primeira estimativa, mas é superior ao do levantamento anterior. Na comparação com o sétimo levantamento, o ganho de 0,9% (ou 2,5 milhões de toneladas) é explicado pelo aumento da área de milho da segunda safra e do melhor desenvolvimento no final do ciclo das lavouras de arroz, milho e soja, segundo a Conab.
No final de abril, as culturas de primeira safra estavam com a colheita praticamente finalizada, as de segunda safra estavam entre a fase de crescimento e de colheita e as de terceira em fase inicial de plantio. Esta última inclui aveia, centeio, cevada e trigo. Assim, as projeções para a colheita total ainda podem ser corrigidas.
A produção de arroz poderá diminuir 9,1% em relação à safra anterior e a de feijão deve ser 8,4% maior. Mas não haverá problema de suprimento. A oferta (estoque inicial, produção e importação) desses dois itens essenciais na mesa do brasileiro deverá ser maior do que a demanda (consumo interno e exportações).
Os resultados da agricultura têm sido animadores numa economia que continua com grandes dificuldades para retomar o ritmo adequado de crescimento e é pressionada pela inflação. No plano mundial, o corte das exportações de fertilizantes, trigo e milho da Ucrânia e da Rússia por causa da guerra afetou duramente o mercado. A provável quebra da produção chinesa de trigo colocará ainda mais pressão nos preços desse item, que, segundo algumas estimativas, em julho poderá estar custando até 80% mais do que custava no início do ano.
Nesse mercado já abalado, vários governos têm imposto restrições às exportações de vários alimentos básicos, como grãos, óleos comestíveis e leguminosas. Medidas protecionistas como essas devem exacerbar as dificuldades nos países consumidores. Os preços poderão subir ainda mais. Problemas de suprimento de itens básicos, sobretudo nos países de menor renda, podem levar a crises políticas e a riscos de endurecimento de regimes que já demonstram pouco apreço por regras democráticas.
A agricultura nacional, eficiente num país que carece de eficiência na administração pública federal, vem tendo papel indispensável para manter o Brasil relativamente imune às dificuldades que assolam ou ameaçam o resto do mundo.