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Bolsonaro tem ainda muita tinta na sua caneta para gastar a seu favor nas eleições

Adriana Fernandes*, O Estado de S.Paulo

O presidente Jair Bolsonaro tem ainda muita tinta na sua caneta para gastar a seu favor nas eleições deste ano.

Como assim? 

Essa foi a pergunta que muitos leitores fizeram à coluna diante da reportagem do Estadão que mostrou que o governo Bolsonaro tinha uma “folga” de R$ 45 bilhões para aumentar a aposta em corte de impostos e até lançar mão de subsídios sem furar a meta fiscal.

Bolsonaro
O presidente usa a sua caneta para reduzir os tributos e atender a todo tipo de demandas. Foto: Alan Santos/PR - 22/3/2022

Até agora, todos os olhos estavam voltados para buscar (com dribles) espaço no teto, regra que impõe um limite anual para as despesas com base na variação da inflação.

A confusão é natural porque o Brasil tem muitas regras fiscais, e a meta fiscal, que trata do resultado primário (calculado pelo valor das receitas menos despesas sem contar o pagamento dos juros da dívida), acabou ficando em segundo plano após a criação do teto em 2016.

Ocorre que em 2022 o limite para ampliação de despesas ficou tomado. Também ficou mais difícil politicamente fazer novos furos no teto depois da festa do ano passado. A consequência é que o espaço para medidas fiscais que possam garantir benefícios eleitorais passou a ser do lado das receitas.

É por isso que só este ano o governo já abriu mão de R$ 49,8 bilhões em redução de receitas e mesmo assim a arrecadação ficará R$ 87 bilhões maior do que a prevista quando o Orçamento foi aprovado.

O presidente pega carona nesse cenário e usa a sua caneta para reduzir os tributos e atender a todo tipo de demandas (até mesmo para cortar imposto de carro importado, jet ski e motocicletas) que só olham o curto prazo.

O movimento está longe de acabar porque as receitas têm sido favorecidas pela inflação alta e pela elevação do preço do petróleo, que vai engordar em mais R$ 37,2 bilhões o caixa do governo. Estão bombando.

A meta folgada de déficit de R$ 170,4 bilhões abriu a porteira para essa onda de desonerações embalada no cenário eleitoral. 

O governo pode optar em adotar um novo subsídio aos combustíveis, como quer Bolsonaro, abrindo crédito extraordinário sem afetar o teto nem decretar estado de calamidade para suspender as regras fiscais. Basta ter espaço na meta fiscal e uma justificativa “perfeita” para editar o crédito. Esse tipo de crédito não entra no limite do teto, mas o mesmo não acontece com a meta fiscal. Ao contrário do teto, as despesas com esse crédito entram no cálculo da meta. Daí que olhar para a folga fiscal que a meta permite passou a ser importante. É claro que ela pode ser mudada pelo Congresso. Já vimos esse filme tantas vezes. 

*REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA

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