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População em situação de rua na cidade de SP cresceu 31% em dois anos

Cleide Carvalho / O GLOBO

MORADORES DE RUA EM SP

 

SÃO PAULO -- Um censo feito pela Prefeitura de São Paulo mostra que 31.844 pessoas vivem hoje em situação de rua na cidade, 31% a mais do que em 2019, quando foi feito o último levantamento. Do total, 27,9% passaram a viver nas ruas nos últimos dois anos e outros 28,5% entre dois e cinco anos. Quase metade dessa população tem idade entre 31 e 49 anos e 676 são crianças ou adolescentes - 375 de até 11 anos e 301 entre 12 e 17 anos.

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O censo identificou 6.778 pontos de moradias improvisadas na cidade, como barracas ou estruturas de papelão ou papel. Em cada uma delas mora, em média, duas pessoas. O aumento foi de 330% em relação a 2019. A grande maioria fica em calçadas e apenas 11,5% sob viadutos, onde há alguma proteção em caso de chuva.

Das pessoas que responderam ao censo, 28,6% afirmaram ter pelo menos uma pessoa da família no local onde costuma se abrigar. Pouco mais da metade da população em situação de rua tem uma moradia improvisada, 54,5% do total. Outros 44,5% não tem nada.

Segundo o levantamento, realizado entre 20 de outubro e 10 de novembro de 2021, foram recenseadas 12.675 pessoas em centro de acolhida, entre elas 178 crianças e adolescentes, o que equivale a 39,8% do total. O número é bem menor do que o estimado pelo Movimento Estadual da População em Situação de Rua (MEPSR-SP), que, em outubro do ano passado, em reportagem publicada pelo GLOBO, calculou em 66 mil a população em situação de rua na capital paulista, a cidade mais rica do país.

Entre os entrevistados, a maioria (83,4%) se identificou como homens e 16,6% como mulheres. Outros 1.058 preferiram não responder à questão de gênero. Quase metade (47,1%) se declarou pardo; seguido por brancos 25,8% e negros, com 23,7%. Amarelos e indígenas somaram 0,8% cada e 1,7% não respondeu.

Apenas 2,1% dos respondentes estavam acompanhados por crianças e adolescentes no momento da abordagem. E 0,5% eram crianças ou adolescentes sozinhos.

Censo achou menos do que Cadastro Único, diz ONG

Robson Mendonça, presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, afirmou que o resultado do censo contradiz os dados do Cadastro Único, que reúne informações sobre as famílias em situação de pobreza e extrema pobreza.

Segundo ele, em julho de 2020 já estavam cadastradas 36.322 pessoas em situação de rua na capital paulista.

- De julho de 2020 para cá só aumentou o número de pessoas morando na rua e o perfil mudou. Hoje temos muito mais famílias com crianças pequenas - diz ele.

Mendonça afirmou que o Movimento procurou a Defensoria Pública de São Paulo e da União para que sejam criados mecanismos que permitam à população de rua se inscrever mais facilmente no Cadastro Único e nos programas de auxílio governamentais.

Segundo ele, além de não ter acesso à internet, alguns postos de atendimento presenciais chegam a pedir comprovante de endereço.

-- Na última semana as zeladorias da Prefeitura passaram a retirar barracas da região central da cidade. Passam três vezes por dia, porque o IBGE afirmou que vai fazer o cadastro também de barracas - diz ele.

De acordo com a pesquisa, 58,5% da população de rua vive hoje na região central da cidade, entre a Sé e a Mooca.

-- Enquanto a Prefeitura não fizer um Censo real, que mostre as reais necessidades, ela não conseguirá criar políticas públicas para conter o aumento da população de rua - afirma.

Para Mendonça, o essencial é não deixar que as pessoas que vivem nas ruas passem fome; não retirar pertences, como barracas, colchões e cobertores; e providenciar moradias que garantam o mínimo de dignidade para as famílias.

Segundo ele, muitas pessoas saem da periferia para o centro porque é mais fácil de conseguir alimentos e bicos, como entregas de panfletos.

O advogado Ariel de Castro Alves, especialista em políticas públicas de direitos humanos, afirma que o aumento demonstrado pelo censo fica aquém do que é visto na realidade pelas pessoas que transitam pela cidade.

Segundo ele, embora ainda haja uma grande concentração na região central da cidade, hoje há população em situação também nos polos comerciais dos bairros de periferia.

-- A população de rua acabou excluída dos auxílios, seja por falta de documentos e até por falta de acesso aos meios digitais - diz o advogado.

Na avaliação dele, o aumento de pessoas vivendo nas ruas é resultado da crise econômica e social, com perda de renda, o aumento da inflação e despejos que continuaram a ocorrer mesmo durante a pandemia, quando deveriam ter sido suspensos.  Alves lembra que há casos de dependência de álcool de drogas e também de violência doméstica, que acabam levando mais gente para as ruas. Por isso, as políticas públicas precisam ser multisetoriais para enfrentar o problema.

Procurada, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social ainda não se pronunciou.

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