Destruição de balsas de garimpo tem objetivo de inviabilizar instrumento do crime
28 de novembro de 2021 | 17h44
O ato de destruir todas as balsas e dragas de garimpo ilegal encontradas pelos agentes da Operação Uiara, ao longo do Rio Madeira, não é uma medida de uso de força ou intolerância do aparato policial. O que se pretende com esse gesto, que é frequentemente criticado pelo presidente Jair Bolsonaro, é inviabilizar o maquinário utilizado para a prática do crime ambiental.
Com a ação, que tem previsão legal e é regulamentada, os agentes destroem as máquinas e evitam que estas voltem a ser utilizadas, de alguma maneira. O prejuízo financeiro causado aos donos dos equipamentos também é mais um reflexo desse tipo de medida, o que acaba retardando os planos dos empresários do garimpo de retomarem as operações.
O Estadão acompanhou uma dessas destruições nas margens do Rio Madeira, na altura do município de Nova Olinda do Norte, por agentes da Polícia Federal. Ao abordarem a balsa, peritos da PF colheram itens pessoais deixados pelos garimpeiros e material retirado pelas dragas.
A queima da estrutura é feita com o próprio combustível encontrado nas estruturas, que normalmente carregam grandes tanques de plástico com centenas de litros de gasolina. Em cerca de cinco minutos, o fogo se alastra e coloca tudo abaixo. Com o calor extremo, os equipamentos de ferro costumam dilatar, comprometendo uma nova utilização. Com o afundamento no leito do rio, torna-se item irrecuperável.
O recolhimento desse material também não costuma ser feito pelos agentes, dadas as difíceis situações logísticas nas quais são encontrados. O transporte do equipamento, além de ser complexo, também pode colocar os próprios agentes em novas situações de risco.
Centenas de garimpeiros subiram o Rio Madeira, sentido Humaitá, na última sexta-feira, 26, um dia antes de ser deflagrada a operação que reúne agentes da Polícia Federal, Ibama e Marinha, de vários Estados. Muitos garimpeiros abandonaram as balsas nas margens do rio e fugiram por ela.
Apesar da estrutura precária das balsas que diariamente é encarada pelos garimpeiros que operam os equipamentos – muitas vezes acompanhados de suas famílias –, geralmente estes não são os donos do equipamento. Trata-se, na maioria dos casos, de pessoal que presta serviços para terceiros que financiam a operação.
As balsas em si são baratas, por se tratar de estruturas feitas, basicamente, de madeira. O maquinário colocado sobre elas, porém, é equipamento pesado, com preço que pode oscilar de R$ 50 mil a R$ 1 milhão. Em alguns casos, estruturas mais bem equipadas chegam a ultrapassar esse valor, segundo os agentes policiais.
A operação policial iniciada na madrugada do sábado, 27, avança pelo Rio Madeira. Depois de dezenas de abordagens feitas na região de Autazes e Nova Olinda do Norte, no Estado do Amazonas, ela segue para o trecho do rio que corta o município amazonense de Borba.
Neste domingo, 28, duas pessoas foram detidas durante a abordagem policial. Elas estavam com ouro e foram encaminhadas à superintendência da Polícia Federal do Amazonas, em Manaus. Até este sábado, 27, pelo menos 31 balsas e 69 dragas, que são os equipamentos usados para sugar o leito do rio, tinham sido destruídos pela operação.