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Josias de Souza
 

Colunista do UOL

11/11/2021 18h02

Ao anunciar que o governo prorrogará por mais dois anos a desoneração da folha de pagamentos de empresas dos 17 setores que mais empregam no país, Bolsonaro se antecipou a uma providência que o Congresso já havia decidido aprovar. O presidente contraria posição de sua equipe econômica. Age com acerto. A medida não é apenas necessária. Num cenário de inflação em alta e desemprego a pino, renovar a desoneração, que vence no final do ano, tornou-se uma medida inevitável.

A desoneração não se confunde com isenção. Muda a forma de calcular a mordida. Em vez de recolher 20% sobre a folha de pagamento, as empresas pagam uma alíquota sobre a receita bruta —de 1% a 4,5%, dependendo do setor. Em troca do refresco, evitam demissões.

O Congresso se equipava para prorrogar a desoneração por mais quatro anos. Bolsonaro reduziu o prazo pela metade. E os parlamentares providenciam o ajuste da proposta que tramita na Câmara.

O anúncio de Bolsonaro surge num instante em que a inflação se consolida acima do patamar de dois dígitos. Fechadas as contas de outubro, o índice acumulado em 12 meses foi de 10,67%, a mesma taxa registrada no final de 2015, na fase em que o Brasil ralou a ruína econômica produzida sob Dilma Rousseff. A inflação crescente se mistura ao desemprego de quase 14 milhões de pessoas, à fome de mais de 19 milhões de brasileiros, aos juros ascendentes e a uma atividade econômica declinante. Parte da encrenca vem de fora, como reflexo da crise mundial pós-pandemia. Mas a crise brasileira é agravada por erros do presidente. Na crise sanitária, por exemplo, Bolsonaro tornou-se sócio do vírus.

Tributar a folha numa hora dessas, arriscando-se a enviar mais trabalhadores o olho da rua não seria apenas um erro econômico. Também não seria apenas um gesto de crueldade. Para um candidato à reeleição, seria uma estupidez política.

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