Crítico de Bolsonaro, Doria promove aglomeração com 201 prefeitos e depois pede desculpas
Crítico das aglomerações promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na pandemia, o governador João Doria (PSDB) participou de um evento lotado no Palácio dos Bandeirantes nesta quinta-feira (12) para um anúncio do governo e teve que pedir desculpas pelo excesso de convidados.
O tucano, que é pré-candidato à Presidência em 2022 e rivaliza com o atual titular do Planalto no discurso sobre o enfrentamento à Covid-19, publicou em seu perfil no Twitter, no mesmo dia, uma foto que mostra o Auditório Ulysses Guimarães, localizado dentro da sede do governo, cheio de pessoas.
Segundo Doria, 201 prefeitos de cidades do estado participaram da solenidade para o anúncio de ações de reforço na segurança no campo e da liberação de R$ 215 milhões em crédito para produtores rurais. O evento também reuniu outras autoridades, membros do governo e profissionais de imprensa.
Imagens da ocasião mostram que a obrigatoriedade do uso de máscaras foi respeitada. Já a orientação de distanciamento foi ignorada durante a cerimônia, com parte das pessoas sentadas lado a lado em cadeiras no auditório, e nos momentos de formação de fila para subida ao palco e de saída do local.
O alto número de presentes chegou a ser exaltado em discursos pelo secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Itamar Borges, e pelo presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Carlão Pignatari (PSDB). O deputado estadual destacou o "auditório cheio" como mérito político do governo.
Ao chegar para entrevista coletiva após o ato, em uma área mais reservada e ventilada do palácio, Doria disse que, antes de mais nada, precisava pedir desculpas.
"Quero me desculpar pela aglomeração de pessoas aqui. Nos surpreendeu a quantidade de pessoas neste evento. Felizmente, todas com máscaras, todas passaram álcool em gel nas suas mãos. Mesmo assim, as nossas desculpas pela aglomeração", disse.
Segundo o portal G1, o governador também disse que, embora não recomende, "há um certo momento em que se torna inevitável" a reunião de pessoas. E lembrou o avanço da vacinação e a obediência ao uso de máscara. "Não temos como impedir as pessoas de virem ao palácio, que é um espaço público, aberto."
A solenidade para o agronegócio também teve a participação do vice-governador e secretário de Governo, Rodrigo Garcia —pré-candidato do PSDB a governador em 2022—, da secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, e do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB).
Na ocasião, a gestão do PSDB anunciou uma série de ações de incentivo a produtores rurais do estado, como a liberação de R$ 215 milhões para linhas de crédito e seguro rurale o lançamento de programas voltados à segurança na zona rural e à criação de políticas públicas para o segmento.
A foto compartilhada por Doria no Twitter, em que aparece de costas e acenando para o auditório, foi acompanhada de uma mensagem sobre iniciativas do governo para a juventude. Programas da área foram tema de um evento também nesta quinta-feira no palácio, com apresentações artísticas e convidados.
Em sua postagem na rede social, o governador ignorou a lotação do espaço.
O tucano recebeu no mês passado, pela segunda vez, o diagnóstico de Covid-19. A contaminação ocorreu em um momento de agenda intensa para ele, tanto com atividades da gestão quanto com sua campanha nas prévias do PSDB que escolherão o nome do partido para disputar a Presidência.
No dia anterior ao diagnóstico, um repórter perguntou ao governador durante entrevista coletiva se ele estava com sintomas de gripe, de acordo com a coluna Painel S.A.. Doria, que negou estar gripado, ainda teve naquela data reuniões presenciais com pelo menos 20 pessoas diferentes.
Outros eventos do governo paulista nas últimas semanas tiveram registros de aglomeração, apesar do uso de máscara e da preocupação com distanciamento entre as pessoas.
No fim de junho, após uma solenidade no Bandeirantes com grande quantidade de convidados e jornalistas, o governador pediu desculpas e também usou a justificativa de que o comparecimento havia sido maior do que o previsto pelo cerimonial do palácio.
Seu antagonista no debate público sobre o combate à pandemia, Bolsonaro é um adepto quase diário de eventos em meio a multidões, desde o início da crise provocada pelo novo coronavírus. A postura do mandatário é criticada tanto por rivais políticos quanto por especialistas da área de saúde.
Em uma cerimônia no Palácio do Planalto nesta quinta-feira com a presença do presidente, o cerimonial do governo federal anunciou o uso de máscara como item "opcional", contrariando normas sanitárias de prevenção à Covid. No ato, Bolsonaro estava sem o acessório de proteção.