Bolsonaro lidera motociata em São Paulo, sem máscara e com capacete irregular
12 de junho de 2021 | 09h42
Atualizado 12 de junho de 2021 | 15h43
Milhares de motociclistas fizeram uma manifestação em apoio ao presidente Jair Bolsonaro neste sábado, 12, em São Paulo. O ato seguiu da região do Sambódromo pela Marginal do Tietê até a Rodovia dos Bandeirantes, onde o grupo foi até o trevo do km 62, na altura de Jundiaí, e retornou em direção ao Ibirapuera, onde Bolsonaro discursou em um carro de som. O presidente, que liderou a motociata, chegou à concentração na zona norte e circulou sem máscara, provocando aglomerações entre os apoioadores, muitos também sem o equipamento de segurança em meio à pandemia de coronavírus. Bolsonaro, um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e o minitro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, foram multados pelo governo de São Paulo, por não usarem máscara no ato.
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No discurso no final da motociata, Bolsonaro voltou a falar na possibilidade de suspender a obrigatoriedade de uso de máscaras por pessoas já vacinadas, defendeu o trabalho do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e fez novo aceno aos motociclistas, ao falar de isenção de pedágio nas futuras concessões de rodovia. Para issso, no entanto, o presidente vai aumentar o valor para os demais motoristas.
Com Salles no carro de som, Bolsonaro disse que "o Ministério do Meio Ambiente era aparelhado e (Salles) fez um excelente trabalho". O ministro é investigado por indícios de favorecimento de empresas na exportação ilegal de madeira e por suspeita de obstruir a maior investigação ambiental da Polícia Federal em favor de quadrilhas de madeireiros. Ele nega irregularidades.
Bolsonaro repetiu que pediu um estudo ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre a possibilidade de sugerir a não obrigatoriedade do uso de máscara para vacinados. "Quem for contra não acredita na ciência. Não tem como vacinado transmitir o vírus", disse. Mas, segundo especialistas, pessoas vacinadas podem sim transmitir o coronavírus e devem continuar usando máscaras, assim como o resto da população.
Trajeto
A Rodovia dos Bandeirantes ficou com tráfego interditado para veículos entre os km 14 ao 61, em ambos os sentidos, para a passagem dos milhares de motociclistas. Pelo Twitter, a Polícia Militar de São Paulo registrou um acidente no comboio, no km 30. Imagens da Band News mostram o momento em que motociclistas caem. Uma ambulância foi acionada, segundo a PM.
Durante o passeio de moto, Bolsonaro utilizou um capacete do tipo coquinho, que não protege o maxilar nem possui viseira. O uso desse equipamento é proibido pela Resolução 453/2013 do Conselho Nacional de Trânsito. É considerado uma infração grave, sujeita a multa. Ao sair para a motociata, Bolsonaro agradeceu o convite dos manifestantes e disse “acelera para Cristo”.
O presidente vestia um colete que ganhou pelo presidente da Associação de Proprietários de Motocicletas Harley Davidson, Wilson Fly.
Perto de 14 horas, Bolsonaro e o motociclistas começaram a chegar à região do Parque do Ibirapuera, na zona sul da capital paulista. No local, o presidente, ainda sem máscara, foi até os apoiadores e levantou um cachorro com a bandeira do Brasil enquanto tocava a música tema de Ayrton Senna.
Enquanto aguardavam a chegada do presidente, os manifestantes reunidos a pé no Ibirapuera estendiam faixas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e pedindo "intervenção militar" a favor do presidente. As camisetas vendidas pelos ambulantes contêm frases de ordem pedindo o voto impresso.
Os apoiadores ocupavam um trecho da Avenida Pedro Álvares Cabral que vai do Monumento às Bandeiras até a Assembleia Legislativa de São Paulo.
Concentração
Mais cedo, na região do Sambódromo, na zona norte, para entrar no "pelotão", cada motociclista tinha antes de passar por um posto de revista montado pela segurança presidencial, onde eram revistados.
A Polícia Militar teve de disponibilizar mais de 6 mil PMs para mitigar os impactos no trânsito do ato, uma vez que havia preocupação de a manifestação prejudicar o comércio neste 12 de junho, Dia dos Namorados, quarta data mais importante para o setor no ano.
Enquanto aguardavam o início da manifestação, os motoqueiros já revistados se mantinham sem máscaras, aglomerados. Alguns triciclos adaptados tocavam músicas em favor do presidente e jingles da campanha presidencial de 2018. Havia ainda a distribuição de panfletos em defesa das escolas cívico-militares e, em especial, do "voto impresso auditável" por motociclistas no entorno do ato, como na Avenida Braz Leme e na Rua Brazelisa Alves de Carvalho. Muitos ambulantes vendiam camisetas e faixas em favor do presidente e bandeiras do Brasil de diversos tamanhos.
A manifestação foi organizada por integrantes de clubes de tiro e de motociclismo do interior de São Paulo e de Estados vizinhos. O ato foi divulgado também por parlamentares da base aliada ao presidente e grupos que, em São Paulo, vinham organizando protestos contra o governador João Doria (PSDB).
Segurança
A Polícia Militar paulista, que manteve conversas com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ao longo da semana, reforçou a vigília de pontes e viadutos por onde a motociata passou, para evitar que objetos fossem arremessados nos manifestantes. No fim do ato, no Ibirapuera, dois drones seriam usados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para acompanhar o ato. Segundo informações da Secretaria Estadual da Segurança Pública, cerca de 6,7 mil policiais trabalham no acompanhamento da manifestação.
Além do aparato formal, ostensivo, montado com pessoal do Comando Militar do Sudeste, das polícias federal, militar e civil, Bolsonaro tem ainda um reforçado esquema de segurança próxima. O GSI conta com cerca de 40 agentes usando motos, infiltrados entre os motociclistas manifestantes. Isso, sem contar os batedores e os agentes do grupo regular da Presidência.
No Rio
No último dia 28, Bolsonaro participou de ato similar, com grande público, no Rio, onde foi recebido pelo governador Cláudio Castro (PL) e dividiu palanque com o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello – o episódio causou desgaste ao Exército, que decidiu não punir o general da ativa pela participação de ato político. / COLABORAROU LEANDRO TAVARES