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Compasso de espera

Em seu relatório trimestral sobre as perspectivas para a inflação, o Banco Central passou mensagem de cautela. Apesar da recente redução no ímpeto das altas de preços, indicou que não espera cortar a taxa de juros (hoje em 14,25%) no curto prazo, a despeito da recessão que se aprofunda. Ainda que o viés seja de corte, é acertado aguardar quando se considera o momento atual de alta incerteza, sobretudo no campo político, cuja resolução certamente afetará a trajetória das variáveis que determinam a inflação.

Tome-se a taxa de câmbio, que influencia os preços de produtos sujeitos à concorrência internacional. No fim de fevereiro, a cotação do real em face do dólar flutuou em torno de R$ 4; desde então, caiu para R$ 3,60, valorização de 10% que reduz a ameaça de repasses de itens importados no mercado.

Outros fatores que atuam para a redução de pressões inflacionárias são a baixa nos preços dos alimentos –com o fim do efeito climático El Niño–, a menor alta de tarifas públicas e, mais do que todos, a profunda recessão que limita a demanda no setor de serviços.

Por essas razões, nas últimas semanas começaram a cair as projeções do mercado financeiro para a inflação. Isso não acontecia desde meados do ano passado, quando o governo federal provocou a disparada do dólar ao abandonar seus compromissos com as metas de economia no Orçamento.

A expectativa para o IPCA em 2016 caiu de 7,62% para 7,31% ao longo de março, mas permanece em 6% para o ano que vem.

Não é garantido, entretanto, que essa melhora incipiente será mantida. Parte da valorização do real, por exemplo, decorreu de fatores externos, como o adiamento de novas altas de juros nos EUA.

A incerteza maior, naturalmente, vem dos gigantescos problemas domésticos. Sem maior clareza no cenário político, não será possível antever o rumo dos gastos públicos, por exemplo, cujo crescimento descontrolado é hoje o principal fator a pressionar a inflação.

Quanto a isso, as notícias continuam aterradoras –o deficit público só faz subir, tendo chegado a siderais R$ 125 bilhões (2,1% do PIB) nos últimos 12 meses.

Nesse ambiente, o BC abandonou outra de suas expectativas otimistas –não trabalha mais com a hipótese de que a gestão do Orçamento contribuirá para reduzir a inflação, ao menos neste ano.

No balanço geral, as projeções do Banco Central continuam a indicar que o IPCA chegará à meta de 4,5% apenas no início de 2018.

Para controlar a inflação e criar condições para juros civilizados é preciso colocar um freio no crescimento da dívida pública. É também essa incerteza que hoje paralisa o país. FOLHA DE SP

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