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Especialistas criticam governo por querer desativar Hospitais de Campanha e defendem nova função para as unidades

Thaís Sousa / O GLOBO

 

RIO - O anúncio do fim das operações dos hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo, administrados pelo Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) pegou de surpresa a comunidade científica. Especialistas que já fizeram parte do comitê criado para assessorar as ações do Governo do Estado — e que foi esvaziado em maio — apontam falhas no planejamento e indicam alternativas para a gestão da Saúde.

 

Para o infectologista e pesquisador do Instituto de Medicina Social da UERJ, Mario Roberto Dal Poz, em números absolutos, o fechamento dos hospitais de campanha não terá grande impacto, considerando-se que outras unidades de saúde já têm capacidade para absorver essa demanda. Mas o especialista destaca que essa interrupção no funcionamento evidencia a falta de coordenação e de coerência nas ações. Dal Poz explica que a situação econômica do Estado do Rio de Janeiro deveria ter sido considerada quando o governo decidiu montar as unidades.

— Faltou planejamento até da questão financeira. O estado está nesse regime de recuperação fiscal. Então, mais uma razão para que cada centavo fosse muito bem pensado. As coisas precisam ser feitas de forma responsável — afirma.

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O especialista conta que o comitê científico, que naquela época ainda se reunia com regularidade, sugeriu alternativas à abertura dos hospitais. Ele cita, por exemplo, os leitos de UTI estaduais e federais que estavam inoperantes em todo o Rio de Janeiro e poderiam ter sido ativados.

No entanto, Dal Poz espera que, diante da redução de unidades, com fechamento dos hospitais de campanha, o atual secretário aproveite a oportunidade para empregar recursos e esforços na rede existente.

— Ele poderia aproveitar essa oportunidade e colocar esforços pra melhoria da qualidade da atenção aos pacientes nos hospitais que restaram. O que realmente salva vidas é a qualidade do cuidado.

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Pacientes sem gravidade nos hospitais de campanha

Já a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo acredita que desmontar os hospitais, neste momento da pandemia, seria um enorme desperdício de recursos e estrutura. Na opinião dela, as unidades ainda podem ser úteis para receber pacientes de Covid-19 de baixa gravidade, o que ajudaria, inclusive, no controle da epidemia.

— Eles deveriam estar sendo aproveitados para pacientes sem gravidade, que precisam ser acolhidos e tratados longe de suas casas, se não puderem cumprir o isolamento social. E pra pacientes de moderada gravidade. Agora, desmobilizado, é uma pena. Mereceria um aproveitamento na epidemia — acredita.

Transferências às pressas

A informação sobre desmonte dos Hospitais de Campanha do Maracanã e de São Gonçalo foi divulgada nesta sexta-feira pela Secretaria estadual de Saúde. Em nota, a pasta afirmou que o motivo foi o término do contrato com a Iabas, que acontece neste sábado. Pacientes precisaram ser transferidos às pressas, e funcionários foram surpreendidos pela decisão.

"Com os fechamentos das unidades, 26 pacientes do Maracanã, sendo 16 de UTI e 10 de enfermagem, estão sendo encaminhados para o Hospital Universitário Pedro Ernesto, Hospital Municipal Ronaldo Gazolla e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas. Já os 8 pacientes de São Gonçalo, sendo 6 de UTI e de 1 de enfermaria, estão sendo levados para o Instituto Estadual do Tórax Ary Parreira e Hospital Municipal Luiz Palmier. Desta forma, os poderão dar continuidade a seus tratamentos", explicou a secretaria.

Ainda segundo pasta, a Fundação Saúde irá ceder profissionais para atuarem nas unidades para onde os  pacientes forem transferidos e as questões trabalhistas serão resolvidas pela organização social.

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