Sem mensalão nem petrolão, a aliança congressual do governo sofre apagão
Dilma escancara sua fragilidade cada vez que repete “jamais renunciarei”. Na verdade, a presidente se encontra numa situação desesperadora. A única coisa que não a abandona é o medo de ser abandonada. No momento, Dilma vive o pior tipo de solidão, que é a companhia dos áulicos.
Se perguntarem a qualquer congressista ou ministro quais são os três temas prioritários da agenda brasiliense, o sujeito dirá: impeachment, impeachment e impeachment. Chegou-se a essa conjuntura monotemática por uma razão singela: o risco de Dilma ser impedida de exercer o cargo cresceu enormemente.
O pedido de impeachment deve chegar ao plenário da Câmara antes do final de abril. Ali, madame precisaria de 172 votos para livrar-se da encrenca. E seus operadores políticos já admitem reservadamente que esse apoio mínimo pode faltar à presidente da República.
Repetindo: para sepultar o pedido de impeachment, Dilma teria de contar com irrisórios 33,5% dos votos dos 513 deputados com assento no plenário da Câmara. E ela receia que até esse apoio ínfimo pode lhe ser negado. Ninguém disse ainda, talvez por pena, mas a base congressual de Dilma sofre um grave apagão.
Herdada de Lula, a coligação partidária que supostamente dá suporte a Dilma é uma aliança baseada em interesse$ inconfessáveis. E quando um matrimônio é selado na base do interesse vira patrimônio. Sem mensalão nem petrolão, a lealdade dos governistas ficou, digamos, meio cansada.
O PMDB, em cujos quadros se abrigam alguns dos mais notórios investigados da Lava Jato, deve desembarcar nesta terça-feira (29). O PP, a legenda que mais se lambuzou na petrorroubalheira, ameaça fazer o mesmo. O PR, um cartório controlado pelo mensaleiro Valdemar Costa Neto viria a seguir…
Na democracia brasileira, um projeto político que saiu pelo ladrão, os partidos perderam a função. Antes, representavam grupos ou corporações. Hoje, representam apenas os próprios intresses. Sempre houve na política essa confusão entre público e privado. A diferença é que na era petista houve uma radicalização.
Se o mensalão e o petrolão serviram para alguma coisa foi para ecentuar a percepção de que há um quarto poder pairando sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciácio: o poder do dinheiro. A Lava Jato secou a fonte. E Dilma, que dispunha de maioria folgada na Câmara, tornou-se uma presidente minoritária.
Considerando-se que os partidos viraram paraísos fiscais, nos quais o governo investe todo o dinheiro que a corrupção é capaz de prover, Dilma conta com a perspectiva de extrair 100% de dividendos apenas do seu PT e do PCdoB. Juntas, essas “firmas” somam 71 votos na Câmara. Faltam 101 para brecar o impeachment.
Há dois dias, numa conversa com jornalistas estrangeiros, Dilma afirmou: “A oposição me pede que eu renuncie. Por quê? Por que sou uma mulher fraca? Não, não sou uma mulher fraca.” Se não consegue reunir 101 gatunos pingados sem o anabolizante da corrupção, para que diabos serve a força de Dilma?
Aos que imaginam que a eventual aprovação do impeachment significará o fim de todos os problemas, um aviso: vai à cadeira de presidente o vice Michel Temer, do mafioso PMDB. Quer dizer: a política continuará condicionada aos desdobramentos das investigações policiais. JOSIAS DE SOUZA