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Bolsonaro parece, enfim, adotar o pragmatismo. E isso pode até dar certo

O presidente Jair Bolsonaro, que parecia ter feito a opção por levar o seu governo na base das caneladas quase diárias com os outros Poderes – especialmente o Congresso -, parece estar ensaiando uma mudança de rota, adotando um pragmatismo raro na sua trajetória.

A aproximação com o Centrão é o exemplo mais visível. A negociação com o grupo, que ficou conhecido pelo desembaraço com que troca votos por poder – de preferência em forma de cargos -, pode representar uma nova etapa no relacionamento de Bolsonaro com o Parlamento.

O bloco, que reúne de 200 a 220 deputados e partidos importantes no jogo político da Câmara, como PSD, PL, Progressistas e Republicanos, pode ajudar o presidente muito além de protegê-lo de eventuais tentativas de cassação do mandato – há mais de 30 pedidos de impeachment protocolados na Casa.

O presidente pode, enfim, ter algum apoio sólido na tentativa de fazer avançar os seus projetos na Casa. Desde o começo do mandato, a articulação política de Bolsonaro ficou conhecida pela fragilidade, principalmente em razão da pouca experiência dos líderes que nomeou, como Major Vitor Hugo (PSL-GO) e Joice Hasselmann (PSL-SP), políticos de primeiro mandato, um problema para quem precisa conhecer os atalhos da Casa e os meandros das negociações de bastidores. A coisa era tão mambembe que Bolsonaro brigou com o próprio partido, o PSL, arrumou opositores de graça e jogou no lixo quase metade dos 52 votos que tinha na legenda – agora, parece também ensaiar uma aproximação com a antiga sigla.

Com o Centrão, além de mais de duas centenas de votos, Bolsonaro ganha gente mais experiente para conduzir os seus projetos, mesmo que seja gente enrolada com a Justiça, como o líder informal de seu governo, Arthur Lira, na Câmara, e Ciro Nogueira, no Senado, ambos do Progressistas. Mas se tem uma coisa que não falta ao bloco é conhecimento das regras de como o jogo é jogado no Congresso.

Também ajuda o trabalho feito por articuladores como os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil), generais mais afeitos à conversa e ao entendimento do que políticos como Onyx Lorenzoni, que tentou, claramente sem sucesso, desempenhar o mesmo papel no início do mandato.

É possível que, assim, Bolsonaro consiga ficar menos nas mãos de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi decisivo na aprovação de reformas como a da Previdência, mas que nunca teve uma relação muito tranquila com presidente. O fato é que os principais projetos aprovados no Congresso só o foram porque eram do amplo interesse da sociedade e contavam com uma boa vontade que ia além da identificação com o governo. Para outros projetos e outros debates, o Planalto precisará de muito mais.

Choque com o eleitor

E o mais importante é que Bolsonaro resolveu ser pragmático mesmo sabendo que isso lhe custaria desagradar boa parte de seu eleitorado ao abrir mão de bandeiras que empunhou com veemência na campanha eleitoral, como a de que não cederia à estratégia de trocar cargos por votos, a de que não se aliaria à “velha política” e a de que seria um governante que iria “quebrar o sistema”. A mudança de discurso implica agora convencer quem acreditou em tudo isso de que ele vai ter de adotar outra postura para levar adiante o seu governo e as suas propostas.VEJA

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