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Bolsonaro diz que estuda criar Ministério da Amazônia e chama Greenpeace de 'lixo'

Gustavo Maia / O GLOBO

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira que estuda criar o Ministério Extraordinário da Amazônia. A ideia foi apresentada pelo deputado federal Átila Lins (PP-AM), com quem ele se reuniu nesta manhã no Palácio da Alvorada. Na saída da residência oficial, ele também chamou a ONG ambientalista Greenpeace de "porcaria" e "lixo" e defendeu a exclusão dos governadores do Conselho Nacional da Amazônia Legal, órgão transferido para o comando do vice-presidente Hamilton Mourão esta semana.

Bolsonaro se aproximou dos repórteres e disse que a pauta única da entrevista seria o Amazonas, por estar acompanhado do deputado federal do Estado. Ao ser questionado sobre a manifestação do Greenpeace de que o novo conselho da Amazônia "não tem plano, meta ou orçamento”, o presidente rebateu:

— Quem é Greenpeace? Quem é essa porcaria chamada Greenpeace? Isso é um lixo. Outra pergunta.

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Sobre a retirada dos governadores do colegiado, agora composto apenas pelo vice-presidente e por ministros do governo federal, Bolsonaro argumentou que a nada seria resolvido com inclusão de representantes de estados e municípios. Mas disse que o conselho não tomará decisões sem ouvi-los.

— Ó, se você quiser que eu bote — tá aqui o Átila Lins para responde —, se você quiser que eu bote governadores, secretários de grandes cidades, pode ter 200 caras. Sabe o que vai resolver? Nada. Nada. Tem bastante ministros. Nós não vamos tomar decisões sobre estados da Amazônia sem conversar com governador, com a bancada do estado. Se botar muita gente é passagem aérea, hospedagem, uma despesa enorme, não resolve nada — comentou.

Ele destacou ainda que Mourão, que já serviu na região como general, vai ser toda a estrutura da Vice-Presidência, sem custos adicionais, "para até se antecipar a problemas, ajudar no desenvolvimento" da região. E então citou a ideia de Átila Lins de criar uma pasta extraordinária:

— Lógico, teria uma reação grande porque seria mais um ministério, é proposta do Átila Lins a criação do Ministério Extraordinário da Amazônia — declarou.

Questionado se vai ateder ao pleito do deputado, ele comentou que vai levar para estudar porque não pode "aceitar aqui agora".

—  Isso envolve despesa, o impacto negativo de mais um ministério. Se bem que nós estamos perdendo um ministério agora quando o Banco Central passar a ter independência, né? Não sei se vai perder o status de ministério ou não. Porque o objetivo de o Banco Central ser um ministério é evitar ações de primeira instância — justificou.

Ao ser indagado sobre quais seriam as atribuições do novo ministério, Bolsonaro redirecionou a pergunta a Lins. O deputado explicou genericamente que a pasta faria "ações integradas" ligadas à Presidência, diferentemente do conselho, que "faria essa parte mais ampla".

— O ministério seria o órgão executor. Um ministério extraordinário, uma estrutura enxuta e que ficaria ligada à .Presidência da República. É um pedido... — comentou o parlamentar.

Bolsonaro então se negou a responder se o vice-presidente acumularia funções no comando do eventual ministério:

— Nem nasceu... eu nem casei e você quer saber o sexo da criança? Porra...

'Não pega fogo'

O presidente também foi questionado se a pasta ficaria responsável pelas questões ambientais, hoje comandadas pelo Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Ricardo Salles. E ironizou:

— Ambiental é mole... A Amazônia equivale a uma Europa Ocidental, é mole resolver o problema lá. Pega fogo na Floresta Amazônica? Sim, não e por quê? — perguntou a Átila Lins, que disse se tratar de uma "coisa episódica", que acontece todo ano.

O deputado então comentou que a Austrália queimou "não sei quantos dias e meses e ninguém falou nada" e disse que a floresta brasileira é úmida e se recompõe facilmente.

— Não pega fogo floresta úmida. Ninguém fala na Austrália, pegou fogo na Austrália toda, ninguém fala nada. Cadê o Sínodo da Austrália? — interrompeu Bolsonaro. — O Papa Francisco ontem falou que a Amazônia é dele, do mundo, de todo mundo. Por coincidência, eu estava com o embaixador [na verdade, foi o chanceler] da Argentina, eu falei "olha, o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro" - concluiu.

Na verdade, na exortação apostólica "Querida Amazônia", divulgada ontem, o Pontífice afirmou que os governos nacionais têm uma responsabilidade cada vez mais "grave" com a preservação da Amazônia, e que só pode ser realizado pelo poder público:

"É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos sistemas de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais", escreveu o Papa.

'Postura incondizente'

Em nota, o Greenpeace condenou as declarações de Bolsonaro, e lembrou que existe há quase meio século e está presente em 55 países. No Brasil, atua há 28 anos.

"O Greenpeace Brasil lamenta que um Presidente da República apresente postura tão incondizente com o cargo que ocupa", informou a ONG, em comunicado. "Ao longo da história, nossa postura crítica a quem promove a destruição ambiental já causou muitas reações desequilibradas dos mais diferentes personagens. Estamos apenas diante de mais uma delas. Nestes casos, o incômodo de quem destrói o meio ambiente soa como elogio".

A ONG ressaltou que tem combatido o governo Bolsonaro pelas políticas que "levaram ao aumento do desmatamento e ao desmantelamento dos órgãos de fiscalização", além dos "absurdos ataques aos direitos dos povos indígenas":

"Continuaremos trabalhando incansavelmente na defesa do meio ambiente, da democracia e dos direitos das populações. Irrite a quem irritar"

 

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