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BNDES vende R$ 22 bilhões em papéis da Petrobras, na maior oferta de ações realizada no país em uma década

RIO - O BNDES fechou, nesta quarta-feira, a venda de R$ 22 bilhões em ações ordinárias (com voto) que detinha da Petrobras, na maior oferta de papéis do mercado brasileiro desde 2010. Segundo fontes a par da operação, os bancos que coordenaram a oferta definiram em R$ 30 o valor de cada ação, um desconto de apenas 1,6% em relação à cotação de fechamento do papel hoje na Bolsa. Graças à demanda aquecida, o banco conseguiu se desfazer de um lote adicional de ações na oferta.

A venda dos papéis da Petrobras era considerada um passo crucial na estratégia do BNDES de se desfazer de grande parte dos mais de R$ 100 bilhões que detém em ações consideradas "maduras" nos próximos três anos. Como O GLOBO antecipou em outubro, o banco mudou seus critérios de exposição a risco, implementando uma nova diretriz que deve obrigar à venda de algo entre 70% e 90% desses papéis naquele período.

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Embora a estratégia tivesse sido determinada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, já no começo do governo, ela só começou a sair do papel em dezembro, quando o BNDES vendeu, por R$ 2,1 bilhões, sua participação de 34% no frigorífico Marfrig. Em meados de janeiro, o banco de fomento também zerou sua posição na distribuidora de energia Light.

A operação desta quarta-feira foi realizada no Brasil e na Bolsa de Nova York, onde a Petrobras tem recibos de ações listados. 

A oferta do BNDES se deu em momento de apetite elevado por papéis na Bolsa brasileira. Nos dois IPOs (sigla em inglês para oferta inicial de ações) já realizado este ano, a construtora Mitre e a veterana da internet Locaweb conseguiram captar no topo do intervalo de preço pretendido. No seu primeiro pregão, nesta quarta-feira, a ação da Mitre ainda subiu 7,8%.A demanda entre os investidores institucionais foi de duas vezes o tamanho da oferta.

Banco também venderá ações sem voto

A demanda entre os investidores de varejo também foi forte, e, segundo um gestor, houve pressão das casas de investimento para reduzir a participação das pessoas físicas na oferta.  

Com a operação desta terça-feira, o BNDES diminuiu sua participação no capital total da Petrobras de 13,65% para 8,02%. Em poder de voto, o peso do banco estatal caiu para apenas 0,15%. Essa fatia deve cair ainda mais nos próximos meses, já que o conselho de administração do BNDES autorizou sua diretoria a alienar todos os papéis preferenciais (PN, sem voto) até meados deste ano via pregão na Bolsa.

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Desde o fim do ano passado, o BNDES também se prepara para vender sua participação na JBS, o que também selaria o fim da turbulenta sociedade entre o banco e o frigorífico, iniciada nos governos do PT e alvo de críticas explícitas do presidente Jair Bolsonaro. Já em novembro, o braço de participações do BNDES (BNDESPar) contratou consórcio de bancos para assessorá-lo na venda de um lote de ações estimado em R$ 8 bilhões, entre eles o Bradesco BBI, o Itaú BBA e o BTG Pactual.

A venda dos papéis da Petrobras, porém, saiu na frente, depois de a abertura de capital da petrolífera Saudi Aramco ter finalmente se concretizado em dezembro. A diretoria do banco temia que a expectativa pela maior oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) já feita na história - a estatal saudita levantou US$ 25,6 bilhões - reduzisse a atratividade dos papéis da Petrobras.

De qualquer forma, a oferta secundária (sem emissões de novas ações) de papéis da Petrobras nesta quarta-feira foi a maior operação acionária no Brasil desde a capitalização da estatal, em 2010, quando a própria empresa vendeu R$ 120 bilhões de suas ações.

Impacto do coronavírus

Em relatório, o analista Bruce Barbosa, da Nord Research, recomendou a compra das ações argumentando que a Petrobras já vinha sendo negociada a preços considerados atrativos, diante de uma perspectiva de redução de endividamento e aumento da produção e da geração de caixa com o pré-sal.  

Um gestor, que preferiu não ser identificado, acrescentou ainda que a Petrobras também opera com descontos da ordem de 15% na comparação com seus pares no exterior, apesar de perspectiva de desalavancagem e crescimento de produção. Segundo ele, o impacto negativo do coronavírus sobre a cotação do petróleo tirou fôlego da estatal, porém. No ano, a ação ordinária da Petrobras acumulou queda de 4,75%. Em 2019, porém, o papel acumulou alta de 28,1%.   

Coordenaram a operação o Credit Suisse, Bank of America, Bradesco BBI, Banco do Brasil, Citigroup, Goldman Sachs, Morgan Stanley e XP Investimento.

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