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ONGs estão 'desesperadas' e 'romantizam índio', diz indígena que foi com Bolsonaro à ONU

Anna Virginia Balloussier / FOLHA DE SP
 
MICHELE E A YUTOBER INDIA
RIO DE JANEIRO

A youtuber indígena Ysani Kalapalo, alçada a porta-voz dos índios direitistas pelo presidente Jair Bolsonaro, disse nesta quarta (25) que "as ONGs romantizam índio".

Ysani vai ao encontro da indisposição do mandatário com organizações não governamentais que atuam em causas ambientais e indígenas na região Norte. 

No mesmo dia em que o cacique Raoni disse no Congresso que Bolsonaro, "para o bem de todos", precisa sair, ela deu uma entrevista no Salão Verde da Câmara dos Deputados, em Brasília, em que apareceu enrolada numa bandeira do Brasil e ladeada por deputados do PSL, como Carla Zambelli e o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo.

Na véspera, assistiu ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro a estreia do presidente Jair Bolsonaro na ONU.

"As ONGS estão desesperadas. Estão me ameaçando de morte, por que será?", afirmou, sem detalhar que ameaças seriam essas.

Em seguida, enveredou-se por um discurso que poderia ser confundido com o de um progressista: "Querem botar índio no cabresto, o negro no cabresto, o homossexual, e outras minorias". 

Mas ela se referia à esquerda e ao terceiro setor que atua em causas indígenas. 

Segundo Ysani, "falsos líderes" insistem em tratar indígenas como "animais de zoológico".

"Hoje não cola mais ficarmos parados como 500 anos atrás. Hoje o índio quer ter o mesmo direito que qualquer cidadão brasileiro tem. É importante, sim, preservar a natureza. Mas que a gente preserve a nossa saúde, a nossa liberdade de escolha também."

De novo, um espelho presidencial: Bolsonaro disse aos líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU que, "infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas". 

A youtuber, que diz representar "o índio do século 21" e tem um canal de vídeo com mais de 270 mil inscritos, também trilhou o caminho do presidente ao dizer que "um único cacique não fala por nós".

Em Nova York, Bolsonaro afirmou que o "monopólio de Raoni" estaria com os dias contados.

Ysani foi alvo de críticas de várias lideranças indígenas, como um protesto de caciques de 14 povos do Xingu, de onde ela vem.

 "O governo brasileiro ofende as lideranças ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil", afirmou o grupo.

Mas também recebeu algumas manifestações de apoio, como uma carta divulgada no domingo (22) pelo Grupo dos Agricultores Indígenas do Brasil. 

Nesta quarta, ela disse que o "o índio quer sim garimpar, quer sim plantar". "Por que não? Por que o outro lado atrapalha isso?

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