Foco de denúncias, usina de Angra 3 é prioritária para Bolsonaro
Iniciada há 35 anos e foco de diversas denúncias de corrupção, a construção da usina nuclear de Angra 3 é considerada uma das prioridades da área energética do governo Jair Bolsonaro, comandada por um almirante que fez carreira no setor.
O governo espera definir até meados do ano um modelo de atração de sócios privados para contribuir com os R$ 15 bilhões que faltam para concluir as obras. A previsão atual de entrada em operação é 2026.
Ele falou à imprensa antes da prisão do ex-presidente Michel Temer por suspeita de corrupção em contratos da usina. Nesta sexta (22), evitou a imprensa na saída de reunião com executivos no Rio.
Também presente à reunião, o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, disse que o governo deve iniciar no mês que vem pesquisa de mercado sobre o melhor modelo para atrair sócios privados.
Ele citou como alternativas a busca por um sócio para a estatal ou apenas para a usina ou um contrato de construção que garanta fatia da receita futura do projeto. Segundo executivos, empresas da China, França, EUA, Coreia e Rússia demonstraram interesse.
A continuação das obras é vista como estratégica pelos militares, sob o argumento de que é fundamental para o projeto brasileiro de dominar o ciclo de produção de combustível nuclear —atualmente, o país precisa contratar no exterior parte dos serviços.
No mercado, porém, há dúvidas com relação à continuidade. Estudo divulgado em 2018 pela consultoria PSR concluiu que caso a usina fosse substituída por projetos de energia solar no Sudeste os consumidores economizariam R$ 6,6 bilhões por 35 anos.
O governo Temer dobrou a tarifa da usina, para R$ 480 por MWh (megawatt-hora), para viabilizar a retomada. O ministro de Minas e Energia, na época, era Moreira Franco, também preso na quinta.
Com potência de 1.405 MW, Angra 3 pode gerar mais de 12 milhões de MWh por ano, o suficiente para abastecer Brasília e Belo Horizonte por um ano.
Ela é parte de acordo assinado com a Alemanha em 1975, que previa a construção de três usinas nucleares na central localizada em Angra dos Reis, litoral sul do Rio. As duas primeiras, Angra 1 e 2, já estão em operação. A construção de Angra 3 foi iniciada em 1984, mas paralisada dois anos depois por falta de recursos.
Em 2007, o então presidente Lula decidiu retomar o projeto. Na época, os custos eram estimados em R$ 7,2 bilhões (R$ 13,4 bilhões em valores corrigidos) e o início das operações foi previsto para 2013.
Em outubro de 2015, as obras foram interrompidas novamente. A Eletronuclear e os construtores alegaram divergências sobre custos.
O projeto já estava no radar da Lava Jato: três meses antes, o então presidente da estatal, almirante Othon Luiz Pinheiro, havia sido preso por suspeita de favorecimento de empreiteiras. Em 2016, ele foi condenado a 43 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. Pinheiro é um dos citados na denúncia contra Temer e Moreira Franco.
Em nota, a Eletrobras disse que os contratos relacionados à construção de Angra 3 foram objeto de investigação independente conduzida entre o início de 2015 e o final de 2018. A estatal diz que acompanha as ações decorrentes da Lava Jato para avaliar medidas adicionais visando o ressarcimento de perdas —até agora identificadas em R$ 141,3 milhões.