Maia e Alcolumbre assumem articulação, e Planalto oferece emendas e cargos
BRASÍLIA — Pressionado por aliados em meio ao vácuo naarticulação política , o governo decidiu na quarta-feira acelerar a liberação de emendas parlamentares e atender a indicações políticas para cargos do segundo e terceiro escalões. O recado sobre a “ansiedade de parlamentares pela participação no governo” foi levado ao presidenteJair Bolsonaro pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre(DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em almoço com a participação do ministro Onyx Lorenrozi (Casa Civil) e do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO).
Os dois reforçaram que o DEM está disposto a liderar a articulação pela aprovação da reforma da Previdência, mas que o governo precisa dar condições ao partido para negociar com os deputados e senadores.
A pressão funcionou, e o DEM saiu com mais capital político. Único partido com um ministro civil no Palácio do Planalto depois da saída de Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), a sigla ganhou tinta para a caneta de Lorenzoni. O ministro e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) serão os responsáveis pela avaliação dos nomes indicados pelos parlamentares para o governo e pela triagem das emendas impositivas. O governo fala em acelerar a liberação de R$ 3 milhões para cada parlamentar. Para tentar tirar o carimbo de “toma lá, dá cá”, o discurso é que serão observados os seguintes critérios para aceitar indicações: os nomes têm de ser técnicos, sem pendência na Justiça, com aval da Controladoria-Geral da União (CGU) e com “consentimento” de cada ministro da pasta.
Duas derrotas
Maia e Alcolumbre conduzirão, no Congresso, a tramitação da reforma da Previdência, apresentada ontem. Eles já vinham sendo chamados nos corredores do Congresso de “líderes do governo” — e a tendência é que, a partir de agora, esse papel se torne efetivo. Na Câmara, o líder oficial, Major Vitor Hugo, vem sofrendo resistência até em seu próprio partido. No Senado, até ontem, quando Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) foi anunciado líder, a articulação política do governo estava acéfala. Com esse quadro, nas últimas semanas, Alcolumbre e Maia já haviam ocupado o vácuo, recebendo parlamentares e assumindo a defesa da reforma da Previdência.
Alcolumbre e Maia chegaram ao almoço levando as duas primeiras derrotas do governo nas duas Casas, consideradas exemplares da desarticulação política do governo. Na terça-feira, apesar de forte atuação contrária do PSL, os senadores aprovaram convite para Bebianno prestar depoimento à Casa. Na Câmara, a derrota veio à noite, com a ajuda do DEM. Os deputados aprovaram, por 367 a 57 votos, um projeto que susta os efeitos de um decreto do governo que alterou regras de transparência ampliando a lista de servidores com poder para classificar documentos como sigilosos.
No dia seguinte às derrotas, o governo fez um esforço ontem para tentar tornar realidade o discurso de que a crise política é “página virada”. Além do almoço com o DEM, à tarde o presidente tentou organizar a “própria casa” em reunião com a bancada do PSL, que já mostrou o desalinho nas primeiras votações na Câmara.
O tamanho do trabalho político que o Planalto tem pela frente para aprovar a reforma, com três quintos dos votos nas duas Casas, foi desenhado pelo novo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, ontem, que admitiu não saber qual a base governista:
— Nós não sabemos ainda (o tamanho da base governista). É uma renovação muito grande, tanto na Câmara quanto no Senado.
Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), um dos filhos do presidente, foi outro a assumir a dificuldade, ao cumprimentar Bezerra em plenário:
— Não tenho dúvida de que (Bezerra) vai fazer um grande trabalho para melhorar essa interlocução que precisa, sim e muito, ser aprimorada desta Casa com o governo federal, assim como na Câmara.
Um triunfo
O governo teve ontem sua primeira vitória no Senado, atribuída nos corredores muito mais ao ministro Sergio Moro (Justiça) do que ao Planalto. O plenário aprovou projeto que trata do congelamento de bens de alvos ligados a organizações terroristas. Era uma exigência do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), sob pena de o país sofrer sanções internacionais. O texto segue para sanção ou veto do presidente.