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Os novos donos da agenda e de muitas coisas mais

O Planalto de Jair Bolsonaro vem mostrando, até agora, uma capacidade de articulação política e parlamentar próxima do zero com o esquema liderado por Onyx Lorenzoni, o PSL e o grupo de generais palacianos. O presidente teve o bom senso de não interferir ostensivamente nas eleições desta sexta-feira no Congresso – ainda que Lorenzoni tenha feito certa trapalhada no Senado – e, como consequência, não deve ser diretamente derrotado. Mas também não sairá como vencedor, e nem sequer como alguém que terá acabado de montar uma base política consistente no Legislativo.

Depois de semanas no estica-e-puxa das negociações dentro do Congresso – cujas conversas passaram pela repartição de cargos e espaços, pela agenda liberal e pelos temores dos parlamentares que se sentem ameaçados pela Lava Jato e assemelhadas – a dupla vencedora e seus apoiadores serão os donos da agenda, pois só eles serão capazes de fazer as coisas funcionarem por lá.

Para sorte de Bolsonaro, os novos presidentes da Câmara e do Senado, quaisquer que sejam, adotaram discurso favorável a reformas, com prioridade para a Previdência. Tudo indica que esta tem boas chances de ser aprovada. Ninguém garante, porém, que será a reforma de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Poderá, bem provavelmente, a reforma de Rodrigo Maia e Renan Calheiros. O que virá depois disso, não se tem a menor ideia.

Mantidas as mesmas condições de temperatura e pressão, ou seja, a atual equipe de articuladores políticos do Planalto, e desgastes como o do Caso Coaf, boa parte das decisões políticas e econômicas vão atravessar a rua, e será grande a dependência.

O que significa Maia na presidência da Câmara? Apoio a reformas e à pauta liberal, mas nem tanto assim a outros projetos, como as mudanças regressivas na área dos costumes. Acima de tudo, pode significar a entrada triunfal do DEM, seu partido, no governo Bolsonaro. Profissionais do ramo, seus dirigentes, esnobados inicialmente pela decisão presidencial de ignorar negociações partidárias, vão esperar o momento em que serão chamados a participar de forma mais efetiva na Esplanada. E ele chegará. Na bolsa de apostas, o Ministério da Educação é o mais ambicionado.

Renan no Senado é o velho MDB de guerra no poder. Também não criará grandes obstáculos à reforma da Previdência e outras consideradas importantes da agenda de Paulo Guedes, com quem vem se relacionando bem. O futuro, porém, ninguém sabe. E quem conhece o senador, seu partido e seus aliados não aposta, por exemplo, na aprovação dos projetos que o ministro Sérgio Moro enviará ao Congresso endurecendo a legislação penal.  Muito pelo contrário, o que se diz é que, em dupla com Maia – os dois estão jogando juntos nas eleições – vai botar para andar iniciativas de proteção aos políticos como o projeto que pune os abusos de autoridade de juízes e promotores.

Helena Chagas é jornalista / veja

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