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A corrida do nióbio

Metal emblemático do governo Bolsonaro atinge alta histórica e ganha novas aplicações na indústria automobilística e na construção civil

Crédito: Heinrich Pniok

ALTO VALOR Pequenas quantidades do produto tornam o aço mais resistente, leve e flexível (Crédito: Heinrich Pniok) ISTOÉ

O presidente Jair Bolsonaro é um entusiasta do nióbio, metal que forma uma liga de alta resistência e maleabilidade com o aço e cujo mercado mundial é dominado por uma empresa nacional, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), controlada pela família Moreira Salles. Em um vídeo gravado há dois anos, Bolsonaro dizia que o produto seria capaz de garantir a independência econômica do País. Empolgado, ele planejava a criação de um Vale do Nióbio na região de Araxá, em Minas Gerais, onde fica a mineradora, nos moldes do Vale do Silício, pólo tecnológico na Califórnia.

A ideia parecia boa, mas era exagerada. Embora seja muito útil e valioso e renda US$ 2 bilhões em exportações por ano para o País, o nióbio não é insubstituível e nem é uma panacéia. Para fazer crescer seu mercado e desenvolver novas utilizações, a CBMM tem que investir US$ 150 milhões por ano em tecnologia.

Preço em alta

“A capacidade produtiva atual é maior do que demanda, então não faz sentido aumentar muito a produção”, diz Eduardo Ribeiro, CEO da CBMM, que tem 80% do mercado mundial. “Se a gente considerar que o Brasil esse ano vai exportar mais de US$ 200 bilhões, o nióbio representa menos de 1% do total de exportações”. Atualmente o preço do produto está em alta. O ano de 2018 foi excelente para a CBMM, que vem ampliando as utilizações do Nióbio na área da construção civil e na indústria automobilística, inclusive com a produção de baterias para carros elétricos. Há também aplicações especiais como turbinas de aviões e supercondutores utilizados em equipamentos médicos. Houve um aumento do mercado de 25% em 2018 em relação a 2017. Normalmente os negócios da CBMM crescem entre 5% e 6% ao ano. O preço no período, depois de uma queda prolongada, chegou a 38 dólares por quilo de nióbio, próximo da maior marca histórica, de 42 dólares, alcançada em setembro de 2008. “Não é porque somos líderes de mercado que podemos cobrar o que quisermos”, afirma Ribeiro. “Os nossos clientes têm alternativas e, no ano passado, conseguimos elevar o preço porque a cotação do vanádio, metal concorrente, mais do que dobrou”.

Atualmente o mercado mundial de nióbio está em torno de 120 mil toneladas por ano — a capacidade produtiva da CBMM é de 110 mil toneladas. Para efeito comparativo, a produção anual de aço é de 1,7 bilhões de toneladas. Usa-se 500 gramas de nióbio para cada tonelada de aço, a fim de melhorar suas propriedades — atualmente entre 10% a 12% do aço produzido no mundo contem nióbio. Embora a produção de nióbio esteja concentrada no Brasil (o País explora 98,2% das reservas ativas no mundo), existem reservas identificadas e não exploradas em várias outras partes do mundo. Se houver um grande aumento da demanda, novas jazidas começarão a ser exploradas e o preço cairá. Apesar de ser um produto muito interessante e estratégico, o nióbio está longe de ser a solução para os problemas econômicos do Brasil.

Vicente Vilardaga / ISTOÉ

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