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O regresso do capitão à capital - ISTOÉ

Wilson Lima

PRESIDENTE JAIR BOLSONARO

 

Jair Bolsonaro, presidente eleito

Em seu livro Sobrevivência dos vaga-lumes, o filósofo e escritor francês Georges Didi-Huberman discorre magistralmente sobre os efeitos do excesso de luz e holofotes sobre os indivíduos. A conseqüência, segundo ele, dessa condição é justamente tornar invisíveis aqueles seres que precisariam de uma certa penumbra para existir. É possível traçar um paralelo entre os aspectos abordados pelo filósofo natural de Saint-Étienne e a política nacional. O presidente eleito Jair Messias Bolsonaro criou-se na penumbra. Fazia parte do baixo clero da Câmara, grupo de parlamentares com pouca expressão e influência na Casa. A não ser quando destilava polêmicas, atravessava o tapete verde da Câmara quase que despercebidamente. A meia-luz lhe fez bem – acabou eleito presidente do Brasil. Resta saber como se portará, agora, ante os holofotes.

O début, para continuar no francês, se deu na última semana. Pela primeira vez, Bolsonaro circulou pelos Três Poderes como um imã, capaz de atrair todas as atenções, e debaixo de muita, mas muita luz. Se antes, praticamente implorava para ter alguma chance de agenda com os chefes dos Três Poderes, desta vez foi recebido com honras de chefe de Estado. Não faltaram tapinhas nas costas. Na terça-feira 6, durante sessão solene de comemoração dos 30 anos da Constituição, ao ex-capitão foi estendido tapete vermelho. Algo então inédito para ele. Também, pela primeira vez, frequentou a sala da presidência do Senado, ao ser recebido pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). No plenário, chamado de “meu presidente” dezenas de vezes, igualmente experimentou uma situação completamente distinta de alguns meses atrás quando muitos duvidavam de sua vitória.

Simbolismos

Como num cavalo de pau nos hábitos do poder, a passagem de Bolsonaro por Brasília, depois do triunfo nas urnas, incluiu alguns gestos simbólicos. Ele deu prevalência aos encontros com as principais autoridades militares antes de falar com os civis. Primeiro, conversou com o ministro da Defesa, general Silva e Luna, e com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Somente depois visitou os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Presidência da República. Apesar dos rapapés, restou visível, porém, algumas tentativas de emitir recados claros ao eleito. O presidente do STF, Dias Toffoli, ofertou-lhe uma Constituição. Depois, cobrou a necessidade de harmonia entre os Poderes.
Por sua vez, o encontro com o presidente Michel Temer, no final da agenda, cercou-se de amenidades. Na reunião, Bolsonaro voltou a insistir sobre a necessidade de antecipação de parte da reforma da Previdência ainda este ano, como a modificação da idade mínima para a aposentadoria. Durante a troca de afagos, Temer entregou a Bolsonaro uma caixa com uma chave simbólica do Palácio do Planalto, como se dissesse que as portas estavam abertas para ele durante a transição. Chegou a convidá-lo para as viagens internacionais que ainda fará. Em retribuição, Bolsonaro disse que poderia aconselhar-se com ele mesmo depois de substituí-lo. Temer, no que depender do presidente eleito, não ficará totalmente invisível. Que os holofotes não provoquem a invisibilidade do novo mandatário do País, nutrido na penumbra, como temia Georges Didi-Huberman.

PASSOU O BASTÃO
Em encontro na quarta-feira 7, Michel Temer entregou a Bolsonaro uma caixa com a chave simbólica do Palácio do Planalto. Os dois trocaram amenidades (Crédito:Marco Corrêa/PR)

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